04/06/2009

O DESFECHO DOS DIAS

Semana boba, na quarta demos uma volta na Redenção e eu mostrei pra ela onde ficava o Carmen’s Club, no melhor estilo P.I.M.P. possível. Pior, só empresário de jogador de futebol. Larguei ela na padaria da rua Pelotas e fui pegar o Vico e a Dani para irmos ao shopping fazer compras. Sexta-feira combinei de irmos novamente ao Kimbal e então já fui me preparando no início da noite, peguei uns Reds que eu tinha que levar na Taberna, encomendei dois convites pelo Fábio, entreguei os Reds e tomei um Gin Tônica, parei pra abastecer o carro e peguei um Keep Cooler. Fui ao local de encontro, o postinho da Carlos Gomes com a Plínio, peguei outro Keep Cooler e fiquei esperando o Fábio e o Gabriel. Chegaram com os convites e nós sentamos no carro do Gabriel para fazer o reparte do pão nosso de cada dia. Não posso me queixar, ele até que foi bem generoso, e dali fomos para a Bat Caverna encontrar o resto dos terroristas, que aguardavam ansiosos a chegada do menino Jesus.

MOTEL MEDIEVAL 2 O Início, ou A primeira vez no motel com a menina de Caxias

Domingo, 1º de maio de 2004, dia do trabalhador (dia mesmo) – 08:30 da manhã



Eram oito e meia da manhã e eu quase passei batido pela garagem do quatro, tive que dar uma ré e manobrar. Estacionei, baixei a lona da porta e tratei de catar minhas coisas no carro, o kit de sobrevivência. Uma mochila com tudo o que eu precisaria por uns três ou quatro dias, inclusive um monte de camisinhas que eu não usaria. Ao ver tudo aquilo ela deve ter pensado que eu ia matá-la, e talvez eu pudesse, mas não queria. Dois bêbados tiveram dificuldade em achar o interruptor e acabaram subindo as escadas no escuro. Já era dia quando entramos no quarto e antes que a puta começasse a se enroscar em mim, eu fui fechar as cortinas e ligar o rádio, ficando bastante enojado por não ter trazido nenhum CD. Sintonizei na 103 e como sempre: boa música. Ela começou, me abraçava, me beijava e eu nada, eu ainda não tinha conseguido mijar e aquela sensação de que seria nas calças ainda me perseguia. Pedi licença e entrei no banheiro, parei na frente do vaso e nada, fui fechando a porta pra ver se o problema não era nervosismo, fiz o truque da torneira e me irritei:
- Porra eu não consigo mijar!

Talvez ela tenha se assustado com o grau de importância que eu estava dando praquilo, mas qualquer pessoa que estivesse com o cú cheio de cerveja e não conseguisse mijar há mais de três horas ficaria desesperada. Porque eu não tinha esse direito?
- Que que foi gatinho?
- Pára com isso. – Falei, num tom amigável.
- Isso o que?
- Pára de me chamar assim.
- Mas tu não é gatinho? – Eu não sou gatinho e tu é uma putinha prestes a ser comida seria a resposta apropriada, mas eu simplesmente disse não.
- Tu é o meu gatinho.

Ela ficou quieta e eu voltei a me concentrar no meu mijo. A cocaína. Eu achava que era ela que causava isso, toda aquela coisa de o cara brochar e o caramba, devia ser isso. Será que com o resto do pessoal era assim também? Será que é muito cedo pra ligar pra algum deles? Ou muito tarde? Eu podia dizer pra ela que tenho pedra nos rins, talvez justificasse o tempo que eu já estava na frente daquele vaso ‘desinfectado’ como dizia o aviso. Mas e se fosse a cocaína e eu não sabia? E se ela soubesse? Hoje sei com certeza que não é, estou limpo há duas semanas e continuo com dificuldade pra mijar em alguns momentos, mas naquele dia fiquei preocupado Se bem que eu deveria saber que a cocaína não prejudica só a irrigação sanguínea do pau, ela também corta a libido, a vontade de comer alguém é mais por agressividade do que por tesão. Clube da luta: “Eu precisava destruir algo bonito”. Isso é cocaína, por isso ela me fascina. Fascinava. Eu tenho esse lado destrutivo que a cocaína oferece, então não preciso dela.
Voltei pro quarto, circulei, tirei o sapato, a camisa, as meias, mas não sei se foi exatamente assim, não lembro, estou tentando ser preciso mas não preciso ser tanto. O som do rádio estava legal, dei uma ligada na TV e apesar disso tudo não ter durado dez minutos eu acho que relaxei o suficiente pra voltar lá, me concentrar e mijar. Devo ter feito umas caretas bem feias, é normal quando eu mijo.
Hoje é 26 de maio e as duas últimas páginas eu escrevi sentado no Bourbon da Assis Brasil, ás cinco da tarde. Estou tomando o segundo meio litro de chopp, da Brahma é bom frisar, pois ultimamente esses shoppings e hipermercados estão dominados por chopp Kaiser, e agora resolvi misturar uma cerveja escura pra ficar um pouco mais forte, mas só tinha Malzebier. Azar, foi ela mesmo, é cerveja de mulher, doce pra caralho, mas nos dias de hoje o que importa é design visual e o meu chopp estava preto, era o que eu queria. Foda-se a Malzebier, já acabou. Trilha sonora do Blade Runner rolando e aquela nostalgia tentando me fazer fugir do assunto. Esquece.

Voltei
Com muito leite pra mamarem eu agora voltei pro quarto de motel, e de bexiga vazia comecei a me roçar na puta. Deitei na cama e ela veio. Tutti, Tutti, a minha Tutti-Frutti. Será que é amor? Não sei, mas ou ela era uma péssima profissional ou sabia desligar-se dos artifícios da profissão e me tratar como um sei lá o que. Namoradinho. Ela nunca tinha tido um namoradinho. Eu estava só de calças e então comecei a tirar a roupa dela também, tirei a blusa e não fiquei surpreso ao vê-la de soutien. Tutti tinha tetas pequenas, se é que existem tetas pequenas, eu acho que nesse caso o nome adequado é seio. Porque a teta por si só já nasceu grande. Pra ser teta tem que ir embaixo e voltar, com ela não acontecia isso, ela era bem magrinha e tinha aqueles peitinhos de colegial, doze a treze anos. Ela se sentou do meu lado (eu estava deitado) e tirou o soutien e então eu comecei a chupar e morder os biquinhos dos seus seios (agora sim!). Tirei a calça dela e ela estava com essas calcinhas minúsculas e justas que as putas usam. A calcinha já foi se enrolando junto com a calça e eu alucinado comecei a agarrar feito bicho aquela bucetinha que me parecia mais deliciosa do que nunca. Logo ela estava toda molhada. Eu acho que as putas tem um sistema represa com sensores, quando percebem uma tentativa de arrombamento elas liberam uma quantidade de fluído para evitar danos maiores. SENTIDO DE ARANHA pode ser o termo apropriado (te explica agora Peter Parker?). Quando senti aquela excitação toda eu logo quis chupar a buceta dela, totalmente sem noção, só que pra minha sorte a vagabunda não deixou. Pela primeira vez na vida encontrei uma mulher que não quis ser chupada. Não restando outra alternativa, enfiei meu pau com tudo, nem pensei em camisinha e ela também não queria, além do mais depois de passar uma noite inteira na dúvida, não podia deixar passar essa oportunidade. Já pensou se ele amolece? Fiquei brincando e mudando de posição durante uns vinte ou trinta minutos (poderia ser honesto e dizer que foram duas ou três horas, mas ninguém ia acreditar) e quando senti que ia gozar parei e dei um tempo, comecei o trabalho de manipulação novamente. Repetimos a seção e eu toda hora estava enfiando o dedo no cú dela, até que ela me perguntou:
- Tú gosta de anal?

Mudei de assunto rapidamente, com medo de ter um dedo enfiado no MEU cú, na seqüência. Brincamos mais um pouco e então nos deitamos transversalmente à cama e eu dei um cochilo bem rápido, daqueles que a gente dá atrás do volante e não comprometem, mas quando voltei a mim ela estava dormindo. Senti muito frio e eu estava quase caindo da cama, ainda tentei agüentar mais um tempo do lado dela, mas não deu. Levantei, fechei as janelas, liguei o ar condicionado no máximo do quente e peguei a colcha para cobri-la. Atitudes de um gentleman. Depois de enfiar o dedo no cú de alguém, no mínimo trate bem. O quarto se tornou um lugar térmicamente agradável, e ela seguia dormindo. Como de costume, fui cagar, peguei minha mochila e entrei no banheiro, não tinha chave na porta. Botei a mochila atrás de porta e fiquei de prontidão, cagar nervoso é uma merda. Pra completar meu desespero o papel estava no fim, então teria que ser econômico. Caguei, me limpei como pude, cuidando pra não usar todo papel, dei uma geral e não encontrei outro rolo. Então fui tomar um banho. Tomar banho em motel é uma maravilha, o chuveiro é bom, a água é quente e ninguém bate na porta pra incomodar, no máximo pra dividir o banho. Voltei pra cama de toalha achando que ela já estaria pronta pra começar outra sessão, mas pra minha surpresa a puta continuava dormindo. Liguei a TV, tentei achar alguma coisa pra fazer, desci até o carro para dar uma fuçada e deixar o meu dinheiro lá que era o local que me parecia mais confiável no momento – por razões de segurança. Foi quando encontrei o CD do Chet Baker que eu tinha acabado de gravar, e resolvi levá-lo pro quarto, pois antes de dormir a puta tinha sintonizado o rádio na continental e eu acordei ao som de La Bamba. Só podia ser palhaçada, ela gostava de Kaiser e ouvia Continental, nada contra, mas é rádio de motel. Subi botei o CD do Chet Baker, abri o frigobar, peguei um Keep Cooler e um energético. Fui lavar o copo na pia do banheiro ao som de The Thrill is Gone. O máximo de interpretação, depois de cagar a emoção se vai esgoto adentro. Todo copo de motel deve ser lavado bem antes de usar, pois já pensou se algum maluco que nem eu, antes de sair esfregou o pau na boca do copo só por sacanagem? Já pensou nisso? Não? pode ter bebido champagne em um copo onde eu esfreguei o pau quinze minutos antes... Melhor ser mais cuidadoso da próxima vez. Melhor não dar chance pro azar. Lavei o copo e misturei o Keep Cooler com o energético, ficou muito ruim, uma merda. Tomei o energético puro e depois não consegui tomar todo o Keep Cooler. Eu não parava de arrotar e a minha barriga estava parecendo um tambor, cheia de ar. Que fazer? Procurei novamente um rolo de papel higiênico, não achei, pensei em ligar pra atendente, mas logo descartei essa idéia. Peguei um pacote de guardanapos que estava no frigobar e levei pro banheiro. Dei outra cagada, me limpei com o guardanapo geladinho (nem tanto) e fui tomar outro banho. Quando se caga mais de uma vez no motel a gente põe o papel no vaso, pra ninguém ver aquele volume de papel higiênico no lixo e pensar que tu veio no motel pra ficar cagando o dia todo. Porra, que merda! Voltando do segundo banho e a vadiazinha ainda não tinha acordado, tomei o resto do Keep Cooler que já estava sem gás e deitei do lado dela. Comecei a fazer carinho e tentar acordá-la, acho que possivelmente eu tenha cochilado uma ou duas vezes ainda, antes que ela acordasse. Quando acordou, peladinha, desprezei o seu hálito de cabo de guarda-chuva e comecei a dar uns beijinhos para tentar agradá-la e enfiar o pau de novo. Em pouco tempo eu já estava comendo ela novamente, e novamente parei antes de gozar. Já era quase hora de cair fora, ainda no quarto liguei para a Lú afim de encontrar ela e o Renato para jantar. Combinada a janta arrumei minhas coisas e fomos para o carro, logo depois das oito horas eles já cobram um adicional e eu não estava a fim de pagar. Saímos e eu paguei os quarenta e cinco reais no guichê. Seguimos em direção ao Swing, o putedo onde ela trabalhava, no caminho paramos no posto para ela comprar cigarro. Aproveitei e comprei duas Brahma Extra. Eu ia levar uma, mas a guria do caixa me disse onde estavam umas mais geladas então eu comprei duas, voltamos pro carro e a puta acendeu um cigarro. Derby! Eu não entendo como alguém pode fumar Derby, aí eu tive que arriar:
- Tu vai fumar esse mata-rato?
- Eu gosto, é bem fraquinho.
- Cigarro só Marlboro e mesmo assim faz mal pra caralho. (O Caubói que o diga...)

Não levamos adiante a discussão, não tinha porque sacrificar meu cérebro. Estacionei o carro na frente do putedo e ela me deu o número do celular dela. Eu não dei o meu, combinamos que eu ligaria e ela então teria o número do meu celular. A conversa não se estendeu muito, a gente se despediu e ela foi trabalhar. Jantar e depois trabalhar. Isso era algo que eu não entendia, como ela conseguia detonar um PF violento antes de ir trepar? Eu procuro fazer um jejum de umas quatro ou cinco horas pra evitar complicações, e ela comia meia hora antes. Sai dali e no caminho o Renato me ligou, eu já estava indo pra casa da Lú que é a namorada dele, mas aí ele disse.
- Trás umas cevas.
- Quando eu chegar aí a gente vê isso.

Eu estava louco para parar, me sentar em algum lugar e bater um papo, a ceva era o de menos, até porque eu estava de bucho vazio há mais de vinte e quatro horas. Lembrei-me que era primeiro de maio e por ser feriado não tinha mercado nenhum aberto, então teríamos que comprar cerveja no posto de gasolina mesmo. Ia pagar mais caro mas pelo menos não ia precisar gelar a ceva. Cheguei lá e contei pra eles o meu sábado, comemos uma pizza que eu e o Renato fomos buscar na Sabbores para economizar a grana da telentrega, já que íamos ter que sair pra comprar cerveja de qualquer maneira, mas como toda economia tem um preço nós tivemos que agüentar o mau humor do gordo idiota que é dono da pizzaria, sem falar que eles não tinham feito – e talvez nem fizessem – a nossa pizza. Lombo com abacaxi, strogonof e portuguesa. Chegaram o Manza, o Juliano e a Dani, sem falar no Vico, meu filho. Papo descontraído, gente nem tanto. O clima nunca mais foi o mesmo e eu ne faço questão que seja, já estou farto de cinismo, hipocrisia e inveja, e é só isso o que alguns tem me oferecido ultimamente. Então prefiro que me olhem de cara feia. Sinceramente. Nada de incrível nesta noite, dispensa comentário, larguei a Dani e o Vico em casa e fui dormir, eu estava fudido. Literalmente. E a Tutti devia estar sentada em uma mesa tentando ganhar alguns trocados com as bebidas de algum velho brocha pervertido. Ela também estava fudida e não tinha ganho nem um centavo por isso.

SOZINHO NO KIMBAL

Domingo, 1º de maio de 2004, dia do trabalhador – Amanhecendo



Chegamos, na entrada dei quinze reais pro Paulão que não tinha troco, as putas não pagam nada, entrei e fui curtir a festa. Neste dia os terroristas haviam ficado em casa e eu estava sozinho em terreno hostil, tive que atacar de homem bomba, ou eu saía ou ninguém. Lá dentro as cadelas entravam e saíam do banheiro uma dúzia de vezes. A farinhada rolava solta e elas cada vez mais animadas pela festa. Freqüentadores, os de sempre, o Albino de abrigo jogging e chinelo de dedo que mais tarde eu descobri ser o DJ de lá e o Gordinho da Bidê. Esse sim era estranho, na primeira vez que eu fui, vi ele chegar de calça de abrigo cinza, tênis yatch, casaquinho azul-marinho de crochê – que a avó deve ter feito antes de eu nascer – e uma camiseta amarela da Bidê ou Balde. Ele senta no palco e fica esfregando o casaco e se lambendo até o bar fechar, nunca toca ninguém, nem fala nada. Eu sinceramente tenho medo do Gordinho da Bidê, ele sim é perigoso. Calmo como uma bomba. Acho que ele nem se masturba pra não perder a concentração. Ambíguo isso. As putas não paravam de cheirar e eu que já tinha cheirado tudo o que podia comecei a encher a cara mesmo, sem pudor, tentando aliviar a garganta. O problema era um só, hoje eu tinha certeza de que teria que comê-la e quem sabe alguma outra, e cada vez que eu pensava no meu pau, lembrava do meu nariz entupido. Como eu não queria fazer feio, aproveitava as vezes em que elas iam no banheiro feminino cheirar e entrava no masculino dizendo que ia mijar e tentava tocar uma punheta pra ver se o pau respondia. O pessoal deve ter pensado que eu era o maior doente pervertido da face da terra. Claro que o clima não era o melhor, mas naquele momento o meu pau não levantava nem com bandinha de música, e eu dê-lhe trago. Cerveja e samba. Dê-lhe trago, as putas cheirando, um monte de caras rodeando elas e eu já nem dava bola. Dê-lhe trago. Meu pau se tornou uma incógnita, aquele momento em que se chega a pensar que é brocha e nunca soube. Com aquele monte de puta quase pelada se esfregando e ele nem se mexia. Me esnobando. Oh beleza! Eu com a bexiga cheia de cachaça e não conseguia mijar, dá pra piorar? Dá! A Tutti resolveu me dar atenção e começou a dançar na minha frente esfregando o rabo no meu pau, só que ao invés do vivente dar sinais de ereção, ele ameaçava me mijar todo. A essa altura a minha vontade era só de ir embora, eu não deixava ela se enroscar muito pra puta não ver que eu estava inerte, porque o que uma puta mais odeia é um cara que vai comê-la e não consegue. Ainda mais se ele não pagar nada. Além disso havia o risco de eu me empolgar e acabar me mijando todo, o que com certeza seria irremediável. Eu estava tão bêbado que já estava ficando sóbrio. Dando a volta em mim mesmo. Não tinha mais noção de como mijar. Como um recém-nascido eu simplesmente esqueci, entrava no banheiro, balançava o pau e não sabia o que fazer tamanho o nervosismo. Fazia tanta força pra mijar que uma hora quase me caguei todo. Me irritei e resolvi ir embora, já eram sete da manhã, a puta meio que se enrolou e eu disse que ia de qualquer jeito, rapidamente ela decidiu me seguir. Saindo na porta o Paulão me estendeu a mão com os três reais que me devia de troco e a puta ficou embasbacada com a cena, nem comentei o porque, não devo satisfação pra ela. Voltamos pro posto – onde eu tinha deixado o carro estacionado sujeito a guincho – e eu comprei uma cerveja pra ela e uma água pra mim. Entreguei a cerveja pra ela se ocupar um pouco enquanto eu ia no banheiro tentar mijar, inútil, fiz até o esquema de deixar a torneira aberta mas não adiantou. Eu não sabia mais mijar. Voltei pro carro, ela começou a se esfregar em mim e eu aguardando os minutos passarem, imagino o que o pessoal do posto devia estar pensando. Eles devem ser treinados para entender isso, já que trabalham na Farrapos. De repente, do nada aparecem a Juliana e a Chiquita fazendo escarcéu no posto de gasolina e a Tutti me fez menção de ir embora, fiquei em dúvida mas entramos no carro. Liguei.
- Tu vai deixar elas aí? – Perguntei e fui tirando o carro da vaga e ela:
- Porque, tu quer levar elas junto pra encher o saco?

Fui saindo do posto e as duas começaram a gritar, e eu:
- Tem certeza que não quer falar com elas?
- Se tu quiser pára!

Foi quando eu percebi que putas são traiçoeiras mas também tem ciúmes, e então fui embora do posto. Fiz o retorno e segui rodando pela Farrapos até a Sertório, em decorrência do alto nível etílico os diálogos desses instantes não são muito claros na minha mente, por isso não sei de quem partiu a iniciativa de ir pro motel. Apesar de que era óbvio. Passei em frente ao Taiko.
- Olhai, que tu acha?

Mas ela não fez muito alarde, então eu fui direto pro Medieval e dirigi o carro até a entrada, dessa vez sem pedir opinião. Quando paramos no guichê e a atendente veio na janelinha:
- Pra vocês o que seria?

Fiquei olhando a tabela ao lado, quase sem enxergar e ela impaciente se debruçou por sobre mim e falou pra atendente:
- Qualquer coisa que tenha cama e um banheiro! – E eu só complementei num tom menos agressivo:
- Um apartamento por favor...
- Número quatro.

NO APARTAMENTO DA VAGABUNDA (Girls just wanna have fun...)

Domingo, 1º de maio de 2004, dia do trabalhador – Depois das 05:00



Eu que não estava afim de papo nenhum, ainda mais no meio daquelas putas todas, cortei o cara. Quando entramos no prédio a vagabunda pediu silêncio. Ridículo. Uma puta deve saber que a sua classe não sabe fazer silêncio, ainda mais em bando. Cheguei no AP e no meio da escuridão vi um baita gordo saindo da cama meio pelado, quando a luz acendeu o gordo já estava botando uma camisa e aquele monte de banha se dobrando por baixo, olhei em volta e o quarto todo era um chiqueiro só, e aquele monte de puta tomando Kaiser. Se eu descesse no inferno até o diabo ia rir da minha cara. Como o clima não estava muito legal, a vagabunda falou:
- É o meu irmão!

E o gordo me olhou como se nos conhecêssemos de outra encarnação e cada um de nós sabia quem não devia estar ali, e ele completou:
- Irmão de criação...

Porra! Falando desse jeito o cara deve ser protagonista do Linha Direta. Nessa hora eu já sabia que devia me mandar, só que a putaiada toda achava que ainda ia rolar a maior festa e eu que, no máximo, teria vontade de comer a tal da Juliana, sabia que a permanência ali já não era agradável, muito menos amistosa. O idiota do Tom começou a se entrosar e eu tive que avisar ele dos riscos que corria. Pronto, comecei a falar inglês e o Tom virou o centro das atenções. Ou um alvo, sob outro ponto de vista. Pelo menos pra vagabunda que morava ali, e era tão feia que eu não comeria ela nem muito bem pago. Imagina então dar beijo na boca do jeito que o idiota estava dando. Tom era o pior, israelense que vinha da Austrália visitar um amigo no Brasil e agora estava num apartamento cheio de putas que ele não iria comer, ainda por cima dando beijo na boca da mais feia, só faltava passear com a Chiquita no Parcão que nem eu fiz. Idiota. O Tom, não eu. Eu calculava meus passos, se é que bêbado sabe calcular. Do nada o gordo se pronunciou.
- Se tivesse avisado eu fazia um churrasco, só que aqui não tem churrasqueira.

E eu deixei de ser porta voz do israelense idiota e falei pra minha puta.
- Tá na hora.

O gordo já não olhava pro Tom muito amigavelmente – eu acho que o gordo comia a irmãzinha e ficou com ciúmes do gringo – e antes que a coisa estourasse sai da sala. Tutti, esse era o apelido da minha puta, fez uma convocação de retirada que ninguém entendeu, só o gordo, e lá estava ele abrindo a porta pra matilha. Fui o primeiro e a putaiada veio atrás. O israelense paraguaio ainda não entendia porra nenhuma, e eu acho que até a terceira porrada ele ainda não estaria entendendo. Caminhando pela Farrapos cheio de pó na cabeça eu me sentia num conto de fadas, Branco de Neve e as Sete Anais. Tom era o caçador desarmado no desenho errado, só podia se fuder. Os caras na rua tentavam trovar a tal Juliana e a Chris (o agá é por minha conta) e ficavam fulos comigo. Um cara feio pra caralho rodeado por todas aquelas putas. Ok, feio, mas eu não sou ajudante de pedreiro, office boy ou sei lá que profissão fudida que estes idiotas que vagam pela Farrapos na sexta à noite exercem. Se bem que essas putas na minha opinião – com exceção de duas – não valiam uma punheta mal acabada. A bundinha da Juliana. Eu olhava praquela bundinha e me imaginava inundando o buraco do seu cuzinho, eu comeria a Juliana umas três vezes – no máximo – na mesma noite e teria que ser num motelzinho bem barato, pois ela não merecia champagne nem porra nenhuma. Porra só a minha, pois nem camisinha ela merecia e ainda por cima, no final eu iria dizer pra ela – numa entoação vocal bem triste – que eu tinha um problema sério, e deveria tê-la avisado, que eu havia sido infectado acidentalmente compartilhando uma seringa contaminada e infelizmente agora ela já devia estar infectada também. Imagina o que isso provocaria na cabeça de uma pessoa. Agora imagina na cabeça da puta, que vive disso. Terror psicológico da melhor qualidade. Um filme a parte dentro do livro, e eu fingindo chorar e pedir desculpas enquanto ela tentaria me encher de tapas e unhadas. Mas a realidade era outra, aquela bundinha rebolava caminhando na minha frente e o meu pau nem pensar em endurecer. Tem momentos em que o medo de uma broxada se torna maior que a vergonha de uma ereção pública. A coca estava detonando o meu potencial sexual, cada vez mais eu descobria os efeitos destruidores do meu brinquedinho, só que como todo bom usuário, tinha achado companhia. A Tutti adorava dar uns tecos. Eu fui descobrindo lá no Kimbal, onde toda noite é uma aventura diferente. Como não poderia entrar com a minha cerveja lá dentro, demos uma parada na esquina e eu pensei até em dar uma mijada, mas na dúvida e por respeito eu evitei.

SWING NIGHT CLUB

Domingo, 1º de maio de 2004, dia do trabalhador – 03:30 da madrugada



- Opa, tudo bom? E o Ricardinho tá aí?

Os caras ficaram me olhando e não falaram – nem entenderam – nada. Dei um passo em frente, em direção à porta e um dos capangas da casa colocou a mão direita dentro do palito, fazendo menção de quem ia sacar a arma, mas um colega o repreendeu com uma leve balançada de cabeça. Atravessei a porta e chegando no salão logo vi as meninas todas enfeitadas e sentadas em um sofá à direita da porta conversando sabe-se lá sobre o que. Provavelmente dividindo segredos sobre os clientes habituais, suas medidas, manias e perversões. Entre um drinque e uma risada compartilhavam a decepção de mofar mais uma noite em uma casa completamente vazia. Decadência. Dava pra ver os fantasmas circulando de um lado a outro do salão. Espíritos desencarnados bailando sem preocupação ao tocar de uma melodia dos anos cinqüenta, rearranjada recentemente por algum idiota sem talento com seu tecladinho Casio. Pensei na centena de pessoas que poderiam estar se divertindo ali naquele instante, por um preço justo, e não a quantia exorbitante que era cobrada. Passei os olhos nas meninas que estavam sentadas no sofá e rapidamente localizei o meu alvo. Encarei por um instante trocando olhares e depois fiz um leve aceno com a cabeça antes de me aproximar. Ela afastou-se um pouco do resto das meninas enquanto eu sentava ao seu lado no sofá e antes mesmo de eu pensar em proferir qualquer palavra ela já estava falando. Pela reação, provavelmente me esperando.
- Veio buscar teu anel?

Ela perguntou já retirando o anel do dedo e estendendo a mão para me alcançá-lo. Eu meio que disfarcei. Dei um meio sorriso, como se estivesse disposto a deixar as coisas como estavam, tomei o anel da mão dela fugindo o olhar novamente para o lugar vazio, e tentei mudar de assunto, mas logo em seguida tratei de por o anel no meu dedo.
- Vou te dar um novo quando surgir o momento, mas agora, esse é importante pra mim.

Nem sei de que momento estava falando, talvez nunca saiba e talvez nem importe. O fato é que eu queria o anel de volta e pra ela ele realmente não significava coisa alguma. Ficamos um instante em silêncio. Ela parecia entender que eu estava bastante ciente de que havia passado a noite inteira sentada ali, naquele sofá. Discutindo bobagens e coisinhas do universo feminino que nós homens nunca jamais entenderemos. O instante de silêncio acabou. De repente, pareceu-me que ela ignorava a situação toda em que nos encontrávamos. Como se fosse possível por um momento esquecer em que ambiente estávamos os dois conversando. Isso sem falar no horário, nas pessoas ao redor e na sua indumentária. Olhou para mim seriamente e começou com aquele papo de mulher. Que eu não havia procurado ela a semana inteira e nem sequer tinha dito o meu telefone para que ela pudesse me procurar. Papo de quem quer ir pro quarto e faturar uma grana. Compensar o prejuízo da noite e conseguir uns trocados para comprar um pouco de pó e cerveja. Dançar alucinadamente até as dez da manhã e depois comer um sanduíche de presunto em uma padaria qualquer. Ou não. E eu tentava ignorar isso o tempo todo. Ouvi tudo que ela tinha pra dizer e depois sentei mais próximo e exerci uma certa pressão.
- Tá, e aí?

Acho que dei a entender as minhas intenções. Logo me perguntou se não queria encontrar com ela na saída do expediente. O que ela chamava de expediente nesse caso, era nada mais nada menos do que estar sentada a noite inteira em um sofá conversando, mas tudo bem, melhor isso do que se realmente ela estivesse trabalhando. Como o ‘expediente’ encerrava às quatro, marcamos quatro e meia no posto Ipiranga na esquina da Ramiro com a Farrapos, que era pra dar tempo dela se arrumar – e tomar um banho, espero eu. Aproveitei que ainda tinha uma hora e resolvi passar em casa para preparar minhas coisas. All dressed up for a war. No caminho liguei para a Lú e avisei da aventura. Por medida de segurança era importante deixar alguém de sobreaviso já que eu não sabia a hora que ia terminar. Arrumei a mochila, troquei de roupa e dei uma cagada pra aliviar o bucho. É sempre importante fazer isso antes de se aventurar pelas incontáveis horas que a noite reserva, até porque, foder de bucho cheio é uma merda. Conferi rapidamente o cabelo, os bolsos e os sapatos. Entupi a mochila de camisinhas que eu nunca iria usar e parti pro posto. O desconhecido, e toda a atmosfera que ele gera. As expectativas perante as possíveis frustrações. A música no rádio que não conseguia distrair a minha atenção e a vontade de consumir alguma coisa relaxante. Nesses momentos eu penso que um baseado se enquadra perfeitamente. Infelizmente eu não tinha um baseado. Nunca foi costume meu comprar ou sequer carregar maconha, sempre dei uns “pegas” eventuais, mas nunca fui um habitué. Chegando lá coloquei o carro numa vaga no canto, de frente para a parede, desci, comprei uma Brahma Extra e uns chicletes e fiquei analisando o movimento de idas e vindas, aguardando a chegada da pequena. Talvez tenha tomado duas Brahmas, não recordo exatamente, mas, de fato, ela não demorou muito. Chegou com mais duas e logo se misturaram às outras vadias que já estavam lá quando eu cheguei. Talvez até antes. Fiquei um tempo observando à distância e mascando meus chicletes, depois vesti minha roupa de macho e fui na direção delas. Me enturmei e comecei a conversar, ela foi pegar uma cerveja. A monstrinho estava junto. This monster is no human, this monster is from outta space. Quando conseguia olhar por mais de um segundo para a monstrinho ficava perplexo com a boca dela. Não pela beleza, mas sim porque os dentes dessa ordinária eram dispostos numa escalação mais esdrúxula que time de várzea japonês. Se é que existem várzeas no Japão e, se é que nas imaginárias várzeas japonesas existem times de futebol. A zaga era formada por uns quatro graúdos bem recuados, o lateral esquerdo era o típico ponta-de-lança, bem adiantado e pela direita tinha um líbero que a cada vez que eu olhava parecia estar posicionado diferente. Acho até que cobria toda a lateral. Além deles só existia mais um atacante corpulento cravado na pequena área. Era um dentão tão grande que parecia uma pastilha de Mentex saindo pra fora da boca. Um legítimo esfola-pica. A vantagem de uma dentadura assim é a falta de necessidade de usar fio-dental. Ela tranqüilamente conseguiria limpar entre os dentes com um arame de varal ou um cadarço de tênis. Duas alternativas bem mais absorventes do que o próprio fio-dental. Tento me distrair um pouco olhando para dois frentistas que duelam com suas pistolas no meio do posto. Diesel Dick versus Gus O’Line. Entrincheirados pelas bombas de combustível eles disparam litros e litros displicentemente sem se importar com celulares ligados, cigarros e assemelhados acesos e rádios pop mal sintonizadas. Qualquer coisa que possa provocar um incêndio passa desapercebida. Quase desapercebida. De repente a cretina volta tomando uma Kaiser com toda a vontade e o posto inteiro pára. Eu, perplexo com a sua falta de categoria, pergunto o porque. Eis que ela me responde que a sua “cerveja” preferida é a Kaiser. Se ainda fosse a Chiquita tudo bem, aquela merece um caminhão de Kaiser. Bem no meio da cara, e sem frear, só pra ver se endireita. Entenda-se, Kaiser não é cerveja. Nem quando é a mais gelada, nem sendo a última. Difícil é explicar isso pras categorias de base. Mas, eis que, no meio do amontoado surge uma puta e convida para ir tomar cerveja no apartamento dela. Beleza, eu pensei. A vagabunda que eu nem sabia o nome – e ainda não sei, nem me interessa – entrou na lojinha e comprou uma sacola de Kaiser, fiquei atônito, saquei vinte reais do bolso, entreguei pra ela e mandei pegar cerveja pra mim. Pra minha não-surpresa, a vagabunda voltou com outra sacola de Kaiser. Aí me irritei, entrei na loja e comprei duas Brahma Extra só pra mim. Nunca mande uma vagabunda fazer o trabalho de um homem, nunca!
Rumamos para o apartamento da vagabunda, que ficava em frente ao Alfredo – Você Conhece O Bar Alfredo? Na Ramiro. A Tutti e eu, a Chiquita, a tal vagabunda dona do AP e mais duas ordinárias. Uma eu acho que era a Chris e a outra a Juliana. No caminho fomos abordados por um gringo – esse, gringo de verdade, do estrangeiro – eu não dei bola, mas a dona do AP resolveu levar o cara junto. O lance é que ele não falava porra nenhuma em português, só chamava as vadias de linda, e a vagabunda resolveu falar com o cara. Eu nunca vi uma puta mentir tanto e olha que ela nem entendia o que ele falava. O idiota veio me perguntar:
- Speak english?
- Não – respondi. (seco, e sem reticiências)
- Español?!

SEXTA-FEIRA

Sexta-feira, 30 de abril de 2004 – 18:00



Sexta-feira seguinte. Uma semana sem grandes emoções destacáveis, como a maioria das semanas deveria ser. Infelizmente, as semanas seguintes sucediam-se com coleções e mais coleções de emoções. Todas extremamente destacáveis. Algumas auto-colantes, eu diria, mesmo que a base de cuspe.
Uns telefonemas na tarde e uma programação inocente pra noite. Peguei a minha amiga Lú no banco (leia-se agência bancária) onde ela trabalha – acidentalmente também na Farrapos – e nós fomos pra casa dela bater um papo descontraído, como de costume. Na cozinha, como de costume, também. Ela inclusive assou umas costelinhas desossadas para a gente comer. Estava tudo muito bom, como de costume, mas não é isso o que interessa. Não tinha nada pra beber na casa dela além das cervejas que nós havíamos comprado e, é óbvio, já tínhamos tomado – como de costume, é claro. Acabamos indo à meia noite lá prA Taberna, o bar onde eu esporadicamente trabalho, só pra não perder o costume. Já que insistíamos em mantê-lo esse tempo todo.
Uma vez lá dentro, a Lú preferiu manter-se nos derivados de cevada, tomando o tradicional chopp da Brahma. Com a pior das intenções, apliquei uma mistureba demoníaca de vodka, licores, sukita e tequila, tomei duas bombas de 350ml e fiquei alegre. Não que houvesse motivo pra tristezas, mas não há mal nenhum em aplacar um grandioso sorriso no rosto num início de madrugada, quando ninguém espera mais nada de nada – nem de ninguém. Saímos de lá umas três da madrugada e eu fui levar ela em casa. Até aí, tudo sob controle, como é de costume. Depois de deixar a Lú em casa resolvi não ir pra minha e sim atrás do meu anel. Numa semana sem grandes emoções destacáveis, as memórias mantêm-se presentes. E impertinentes. É claro que eu fui atrás da mocinha também, como de costume, e, assim acabei na frente do Swing pouco antes das quatro da manhã. Entrei com total permissão do pessoal da portaria e fiz um grau do tipo ‘tô em casa’.

NA CALÇADA DO OSSIP

Domingo, 25 de abril de 2004 – 20:00 ou 21:00

(é impossível reproduzir exatamente, portanto, este trecho da história deveria vir acompanhado de um CD com o áudio original, já que metade da emoção se perde no silêncio dos caracteres)

- Mmmbah, eum faí e uma das mina foimbora, hmdaí eum fui cuá otra pru motel ali na Farrapos mesmo, mna otra ‘squina.
- Tá e aí?
- Aí eum ‘ntrei i u cunharto tava caiindo. As parêdi tuduhmfudida. Mmdaí eu fui tomá um banho. Voltei e m’deitei na cama, hmfó de tualha i a mina foi tomá umbanho também. Aí ela veio e começô a mi chupá, i eum ali, ‘ahhh, ahhh’ ... hmfó curtino cara! Mmmfó qui aí parô.
- Como assim parou?
- Eum olhei i a mina tava durmino cara! Ela tava durmino!
- Tá, mas e aí?
- Mmmdaí eum dei uns tapa na cara dela. ‘Acõda! Acõda! Chupa!’ i a mina naum acodava. Hmmaaí eum olhei pra baxo i a tualha dela tava suja di sãngui.
- Bah, que nojo!
- A mina tava mestruada, cara. Mmmdaí eu mi vistí i fui imboora.
- E deixou ela lá?! . . .

Eu não sei como não morri rindo, porque não dá pra ser tão azarado assim, pegar a puta mais feia e cadela da festa, ir para um motel chinelo e ainda a puta dormir menstruada chupando o teu pau. Não tem preço. Nada paga uma experiência dessas, dava pra fazer um filme de terror daqueles bem baratos, tendo a narrativa do próprio Gabriel, introdução do Gil Gomes e comentários do Cid Moreira, o que já valeria o filme. Estando ali na Cidade Baixa, tratei de comprar um anel novo pra ocupar o espaço deixado pelo que a guria levou. Foi a primeira medida, a segunda seria ir buscar o meu anel que eu ainda não tinha dado como perdido.

O ANIVERSÁRIO DA DIANNA

Sábado, 24 de abril de 2004 – 17:00 em diante



Passei na casa da Dani para pegar o Vico e aproveitei pra tomar um banho e tirar aquele cheiro de puta do corpo. Sem falar na roupa que fedia a cigarro e noite. Smells like teen spirit. Quando eu saí do banho, quem estava lá era o Juliano, eternamente rodeando. Ele talvez deva me odiar por isso, mesmo não havendo motivos. O Fábio me ligou pra combinar de pegar carona pro aniversário e a Dani ficou sabendo de tudo o que rolou na noite e, é claro, ficou puta da vida comigo, por estar indo tomar banho na casa dela depois de ter comido outra mina. Puta ainda por cima, o que ela diz que mais odeia, apesar de que na verdade todas as minas são putas, só estão esperando a oportunidade. Ninguém é de ninguém, nem de ferro. Peguei o Vico e fomos pra festinha, chegando lá, Coca-cola, nada de cerveja, ainda lembro do Fábio comentar:
- A única festa de criança que tem mais cerveja do que refrigerante é a do Vicenzo.

E é verdade, só que o nome do meu filho é Vincenzo, com um “n” antes do “c”. O Fábio até hoje não sabe falar direito. Fiz uma boquinha, já que eu não comia nada morto desde a noite anterior, brinquei bastante com o Vico, driblei uma gorda que queria se chegar e o resto da festa nós ficamos pensando onde andaria o Gabriel? Conseguimos colocar todo mundo da festa em situação de questionamento, já que o paradeiro dele era uma incógnita, ainda mais tendo em vista a maneira como ele sumiu. Por fim, quando eu já estava quase indo embora o Louis apareceu e disse que o Gabriel estava dormindo na sua casa, o que tranqüilizou a turma. Combinei de voltar e nós iríamos fazer um churrasco na casa do Louis e continuar o fim de semana. É foda não poder fazer tudo o que se quer, eu saí do aniversário da Dianna e levei o Vico em casa pra ele dormir, fiquei de voltar pra fazer um churrasco com os terroristas, só que eu cheguei em casa, fui trocar de roupa e caí no sono, só acordei no domingo ao meio dia. O mínimo para me recuperar de um dia de trinta e nove horas. Perdi o churrasco com os amigos e pior, o show do Living Colour, que por sinal estava vazio e dizem, muito bom. O sortudo do Fábio ainda encontrou os caras do Living Colour na Redenção no dia seguinte e por incrível que pareça não tinha certeza se eram eles mesmo, o Gabriel estava junto e não entendeu nada. Também, os dois mais o Papi , tinham ido de novo pro Kimbal, imagino então o estado em que eles estavam. Pelo que me foi dito, saíram do churrasco e foram pro Vanda, lá o Papi tomou um fuguetão de whisky, que deve ser um Black Wood piorado (ainda vou contar a história do Black Wood), conheceram umas minas – essas não se diziam putas, pelo menos não por profissão – e o Fábio ficou com uma delas, só não sei porque não arrastou pro Kimbal, onde eles foram parar depois. Lá o Papi encontrou a putinha dele e acabou indo embora pra casa dela em Canoas, de carona no carro da mina. Essas putas não têm limite, elas vão dominar o mundo. This whore is out of control, they gonna burn this city, burn this city. O Fábio e o Gabriel foram ficando e um cara meio que se estranhou com o Fábio, o cara bebeu demais e encarnou que ele estava encarando, se levantou e pegou ele pelo pescoço. O Gabriel estava tão bêbado que demorou a reagir e o Fábio não conseguia se desvencilhar do cara, até que um amigo deste filho da puta brigão se levantou e apartou. Os dois foram pra Redenção acabar a noite tomando chimarrão. No domingo eu fui aparecer lá no Ossip umas oito ou nove horas da noite e aí o Gabriel me contou a história da noite de sexta.

PARQUE MOINHOS DE VENTO (popularmente chamado de Parcão)

Sábado, 24 de abril de 2004 – Um pouco além do meio dia



A aberração só repetia isso e eu tentava parecer a pessoa mais serena da face da terra, falando pausadamente e muito pouco. Ninguém merece! Ninguém merece! Sounds of silence. Quase confundindo preposições e predicados ao tentar formatar frases minúsculas em uma língua que eu quase esquecia também. Precisava arranjar alguma coisa pra fazer até a uma hora da tarde, e que me permitisse contato com outras pessoas. E diálogo inclusive. Diálogo saudável. Inteligente. Na ausência imediata de alternativas e sob sugestões e reclamações de fome, fomos até uma padaria na rua Pelotas – a Planeta Pão – que fica perto do putedo onde elas trabalhavam, o Swing. A Chiquita pediu um café com leite de litro e meio, e um sanduichão de presunto e queijo com três andares e pé direito de cinco metros. Não era um simples farroupilha, era o acampamento inteiro. Num vinte de setembro. A Tutti pediu apenas um copo de leite e uns pãezinhos de queijo, e comia muito pausadamente. A puta tinha classe, ou fingia ter. Mas fingia muito bem, tanto que ela pagou o lanche. Guardei meus comentários para mim mesmo. Com medo de morder a língua e tal e coisa. Já estava contando com este custo a mais. Saímos da padaria em meio a um duelo de baguetes de anteontem. Firmes como pedra. Aço. Floretes. En guard!
Como eu tinha que fazer uma entrega de quatro baldes de azeitonas em um cliente – a Bazkaria, aquela pizzaria na frente do parcão – nosso destino já estava escolhido. Um passeio no parque. Vamos passear no parque? Deixa o menino brincar... Fim de semana no parque. Nada de racional.
Estacionei e peguei os quatro baldes no porta-malas. Justamente aqueles que eu tinha ido buscar bêbado, em Esteio, na noite anterior. Disse pra elas irem até o parque fazer um reconhecimento do terreno, que eu só ia entregar as azeitonas e já estava indo atrás delas. Atrás no sentido figurado, não literalmente. Não ainda. Após cumprir minhas obrigações de proletário ou business man em ascensão, joguei de lado a vergonha e tomei rumo. Adentrei os limites do parque e da civilização burguesa do Moinhos de Vento. Com a exclusividade de um sábado à tarde, comecei a mostrar o (não menos famoso) Parcão para as duas meninas inocentes do interior. On Tour in Porto Alegre. Eu de sapato, camisa e calça social, empresário esportivo, e a Chiquita com as tetinhas quase saindo pra fora da blusa – sem falar que ela não ficava quieta nem um minuto. Fazendo comentários fúteis e inúteis at full time. E sempre pondo em risco a minha discrição e reserva. Coisa de quem não tem nada a perder.
Quando nós estávamos atravessando a passarela da Goethe, e ela vislumbrava abismada com o fluxo de veículos na avenida, eu olhei-a e comentei:
- Sabe o que é pior do que cair aqui de cima? É que tu não morre. Mas antes de conseguir levantar do chão, algum carro passa por cima de ti, e acaba com as expectativas.

E ri da cara da cretina que não entendeu. Comprei pipoca para dar pros patos e a Chiquita, empolgada, quase caiu no laguinho uma dúzia de vezes, a Tutti não, essa ficava o tempo todo se enrolando no meu pescoço e eu já não agüentava mais tanta melação no ouvido. O sol do meio-dia continuava me agredindo e o Parcão lotado pela sociedade porto alegrense, que tapava os olhos dos seus poodles para eles não chocarem-se com cenas tão dantescas e libertárias. A puta de elite recrimina a puta pobre. Essas velhas que hoje desfilam seus botox e apliques pelas areias do parque são as mesmas que se prostituíam nos anos sessenta em troca do status e glamour que a sociedade oferecia. Acabado o passeio levei as duas para o trabalho. A Chiquita continuava reclamando da vida e a outra ficava falando que estava apaixonada por mim, o que fazia as reclamações aumentarem ainda mais. Ela me pedia pra chamar um amigo meu pra ficar com ela, e eu descendo a Dr. Timóteo até lembrei do Diogo e dizia pra ela:
- Vou te apresentar o Diogo, um alemão bonitão de olho claro. Muito amigo meu.

E a Chiquita se empolgava toda. Puta. Chegando lá, estacionei na frente do putedo, com o carro de frente para uma parede toda pixada, que torna a rua sem saída, a monstra entrou rápido e, depois de uma conversa, eu aproveitei e dei um bago ali mesmo. Baguinho, pois o tempo era curto e alguém poderia vir encher o meu saco, quando a real intenção era esvaziá-lo. Quem sabe até um segurança do lugar, sei lá. Só sei que poderia ter sido um simples boquete. Blowjob. Mas veja só, ela não gosta de chupar. De rir ou de chorar? Já viu atacante que não bate pênalti? Na hora que o time precisa ele amarela. Faz um mês que eu traço ela e a gringa ainda tem medo de pegar no meu pau. Boquete então nem pensar. E ela já disse que não gosta de chupar nem deixa ser chupada. É 100% pau dentro. Ficamos ainda um tempinho de romance, eu não gozei pra variar e ela pegou um anel meu e eu não vi. Estava preocupado com o horário, pois eu tinha que levar o Vico no aniversário da Dianna e então ela disse que ia entrar e eu simplesmente deixei e fui embora, só no outro dia que eu fui me dar conta da falta do anel, o que me deixou meio irritado. Mas tudo bem. Olho por olho, dente por dente, anel por anel. Soon or later.

KIMBAL - o Retorno II

Volta



Eu continuo lá, ainda sob supervisão do Fábio e do Papi e nada de beijo na boca. Felizmente, eu acho que a guria não estava entendendo. Não que fizesse alguma diferença. Não naquela situação, nem naquele lugar. Eu acho...
Quando eles resolveram ir embora de verdade, após umas três ameaças, e eu avisei que ia ficar, me despedi, meio sem jeito, pois estava jogado num canto do sofá com ela por cima de mim, e, tão logo os dois viraram as costas eu analisei bem o rostinho dela e dei o primeiro beijo. O segundo não demorou muito, mas ela beijava muito mal. Que beijinho doce que nada. Aliás, menina de programa não tem que saber beijar, ela tem que saber chupar e tá acabado. É uma questão de respeito, a boca é uma coisa sagrada. Use com moderação. Mas eu imaginava que se uma delas realmente se apaixonasse, ela saberia como conduzir as coisas, mas essa tinha medo eu acho, ela mal abria a boca e os dentes então era quase impossível. Claro que, aos poucos, ela foi se soltando e mudou, hoje ela já não beija tão mal. Comigo pelo menos não. E eu que defendia a teoria de que beijo bom é qualquer um, desde que se goste muito da pessoa e o momento seja prazeroso, fiquei meio que num dilema. Era eu ou ela? Alguém não estaria se divertindo ou a minha teoria era bosta nenhuma. Enquanto isso na sala de justiça, beijos e mais beijos na safada. Que vergonha.
Depois do momento ternura, a gente ainda dançou abraçadinho no meio da pista, nem sei que música poderia ser e talvez seja melhor nem lembrar, pra evitar flashbacks. A essa altura (do horário, não a minha), o lugar já estava quase vazio e as pessoas que estavam lá dentro já começavam a perder o pouco pudor que ainda lhes restava. Era um entrevero generalizado, ou, falando a grosso modo, uma suruba. Nós estávamos escorados em uma parede próxima ao bar e ela começou a esfregar a bunda no meu pau. Em ritmo de aventura. Estava tudo muito bom, bom. Tudo muito bem, bem. E de repente começou aquela vontade desgraçada de mijar e ela não parava de se esfregar em mim. Dei uma escapada e fui até o banheiro. Parei na frente daquele vaso imundo, onde uma dúzia de pessoas já devia ter vomitado, esporreado, cagado, e até cheirado cocaína. Alguns devem ter inclusive mijado, assim como eu tentava agora. Só que o mijo não vinha. Ainda fiquei um tempo, abri a torneira, fiz força, mas nada. E, mesmo sabendo que o mijo ainda estava dentro de mim, voltei pro salão. Encontrei-a no mesmo lugar e, quando me aproximei, voltamos ao estágio anterior, sem muita conversa. Ela continuava me excitando e eu agora só podia pensar na droga do mijo que não tinha feito no banheiro e eu temia fazer nas calças. Eu não poderia ser tão perdedor assim, a ponto de me mijar perna abaixo. Ou poderia? Não! Só que a todo minuto eu tinha aquela sensação de que o mijo estava escorrendo aos pouquinhos, sentia aquele calor úmido na ponta do tico, e isso estava me deixando nervoso. Tinha que voltar ao banheiro e resolver esse problema, mas não sabia como. Fui até o bar, peguei uma cerveja, tomei uns goles e dei na mão dela. Enquanto ela bebia fui novamente ao banheiro. Me distraí com um pessoal que brigava próximo à pia e acabei relaxando o suficiente para deixar a urina fluir. Entre facadas e ajustes no topete com o fio do canivete o pessoal de jaqueta de couro acabou com a raça dos orientais. Os nossos japoneses talvez não sejam assim tão “mais inteligentes que os outros”. Nem sei do que se tratava a peleja, fechei o zíper da calça e não perdi tempo lavando as mãos, voltei imediatamente para a pista, mas ainda tinha aquela sensação de que estava ficando alguma coisa, parecia que eu não tinha urinado o suficiente. O que ela estava pensando eu nem imagino. Talvez tenha pensado que eu estava me masturbando ou que cheirei umas duas gramas de pó nesse tempo todo em que estava ausente, já que era isso que ela e as amigas faziam quando iam no banheiro.
Além, muito além do além, nós nos escoramos numa mesa perto da porta de entrada – à direita de quem sai – e ficamos ali “namorando”, até que a amiga feiosa dela começou a encher o saco. Interrompendo a todo minuto com desculpas infantis e desnecessárias. Porra, ela era muito inconveniente. De instante em instante ela vinha e me pedia para conversar com a amiga dela um minuto. Claro que eu não era merda nenhuma pra poder dizer que não, ela que fizesse o que bem entendia, então foda-se, era a deixa pra eu ir no banheiro tentar mijar novamente. Eu sabia que elas iam ao banheiro dar uns tecos e sabe-se lá o que mais, pois as amigas dela já estavam muito loucas. Não sei onde conseguiam tanto pó, talvez com o Hipopótamo, sei lá. O importante era não pensar na maneira como pagavam, pois deveria ser em serviço, já que dinheiro elas não tinham muito.
A feiosa – vamos chamá-la de Chiquita – estava com um cara de camisa branca e coletinho de couro, estilo Kowalski 71’, e mais uma puta véia que devia estar foragida de algum museu ou sítio arqueológico. Ela ficava toda boba e fazia caras e bocas quando eu deixava a amiga dela ir “conversar”. Mas como essa era o tipo de puta ordinária mesmo, eu sabia que no fundo só estava tirando com a minha cara. Ainda mais naquela situação, naquele lugar, e naquele horário.
Ela voltava “me devolvendo” a Tutti e, cheia de sorrisos, dava alguma letrinha cheia de boas intenções.
- Tu é muito legal, come bastante a minha amiga, faz ela gozar bastante!

E eu que já nem sabia se o meu pau ia subir na hora H, não tinha resposta pra ela, só olhava pra outra, balançava a cabeça, e ria. O movimento foi dissipando-se com o passar das horas e, depois de quase todo mundo ter ido embora, restava apenas uns quatro caras quase estuprando aquela gorda que ficava mostrando os peitos, e o pessoal do gelo entrando pra fazer entrega. Fui olhar as horas e já era quase meio-dia. Abri a porta para respirar um pouco e me certificar de que era possível sair daquele lugar, mas o sol lá fora ardia nos meus olhos. Tomei uma última cerveja e resolvi que era hora de se mandar. Nem sempre é fácil ter certeza da hora certa de se fazer alguma coisa, mas, nesse caso, não havia dúvida. Alguns minutos a mais poderiam ser fatais.
Avisei que estava no meu horário e que se ela quisesse sair comigo que fosse se aprontando. Ela foi falar com as amigas, uma delas estava jogada num sofá, logo ao lado da mesa em que nós estávamos antes, com os peitos de fora, e tinham roubado a bolsa dela. Quando ela recobrou os sentidos foi aquele desespero, gritaria e nada mais que resolvesse a situação. A feiosa ainda estava com o Kowalski. O cara queria levar ela e a véia pra um “programa”. Os três ficavam se esfregando e passando mãos aqui e ali o tempo todo e, o cara tomava um whisky de quinta categoria certamente. Black Wood talvez. Como a Chiquita já estava mal, e sem nenhum resquício de discernimento, a Tutti falou pra ela que o cara teria que deixar o dinheiro com a gente antecipado, senão ela não ia. Situação difícil essa. Money talks. O Kowalski estava tão bêbado que nem o Darcy Pacheco ia conseguir levantar o pau dele, imagina essas duas barangas. Com certeza haveria algum tipo de desentendimento e ele ia acabar botando as duas pra fora sem pagar nada, isso se não espancasse ou matasse alguma delas antes do fim do dia. O que não seria de todo errado.
Ficou ainda uma meia hora naquele vai não vai e, finalmente, quando nos demos por conta, o cara tinha sumido com a véia, e aquele capeta em forma de guria acabou sobrando pro meu carro. Kowalski filho da puta, ainda vamos cruzar pelas freeways da vida.
Quando fomos embora, a mina das tetas molengas já estava pelada e os mesmos quatro caras de antes estavam atolando ela, de tudo quanto era lado. O DJ Albino já tinha abandonado as pickups e estava tomando o seu drink em uma mesa isolada na companhia de dois anões, um, inclusive, muito parecido com aquele que estava aparentemente morto no banheiro do Alfredo. Você Conhece O Bar Alfredo? O Gordinho da Bidê e o Hipopótamo não foram vistos mais por ali. O pessoal do gelo já tinha recebido o pagamento e ido embora, assim como os garçons e a maioria das meninas perdidas e imperdíveis que circulam por lá. Restava saber se o Paulão ainda estava na porta e cuidando da segurança. Mas da segurança de quem? O lugar tinha virado um inferno e eu estava de saída. Se a saída fosse possível, o que ainda era uma incógnita. De qualquer maneira, já tinha abraçado o Diabo, apenas pra não perder a viagem.
Chequei os bolsos, dinheiro, chave do carro, documentos e tudo o mais que se faria necessário após sair dali. Dei voz de comando e tomamos o rumo da rua. O grande problema agora era que as duas não podiam entrar no putedo onde trabalhavam antes da uma hora da tarde, e eu já não agüentava mais a voz da outra, que estava sentada no banco de trás, e não parava de reclamar que tinham roubado o casaco dela.
- Ninguém merece, ninguém merece! – A Chiquita ficava repetindo sem parar.

Não sei quanto aos outros a que ela se referia, mas acho que eu, no fundo no fundo, merecia, e talvez até um pouco mais, quem sabe. Talvez, talvez...

O GABRIEL

O Gabriel já tinha ido embora a essa altura. Na verdade, nem vi direito que horas ele tirou o time de campo, e, acredito até, que na verdade ele quase nem ficou lá dentro. Se não fossem os fatos que vou descrever na seqüência, diria até que o Gabriel nem esteve lá nesse dia. Mas não é verdade. No meio da noite, uma puta se engraçou nele. Aproximou-se para a abordagem e essas coisas que elas fazem quando querem tirar um dinheiro da gente. Estralava os dedos das mãos, jogava os peitos para cima alternadamente e fazia tubinho com a língua soprando ar na cara do Gabriel, dentre outras coisas mais esdrúxulas, e nós fazíamos sinal pro cara e ele não entendia. Parecia um bando de mímicos malucos sincronizados. Palmas de ouro para todos. E ovações entusiasmadas da platéia em geral.
O fato é que, mais adiante, ele ainda estava com a vagabunda, acho que hipnotizado pela seqüência circense individual que ela ia apresentando, mas ainda sem trocar nenhuma palavra. Talvez tenha sido logo após, que ele primeiramente pronunciou-se. Ou talvez tenha sido ela, e no momento que o Gabriel teve direito à sua réplica, e possivelmente tenha tido dificuldades para entender o que ela disse, devido ao barulho e a impossibilidade de ler seus lábios negros naquela escuridão. Imagino que o Gabriel enrolou-se para responder e ela além de não entender chongas do que estava acontecendo, não gostou de saber que ele usava aparelho de audição e saiu fora. Insensível.
Era uma negrinha gostosa. Fogosa. Dessas Valérias Valenças que se vê aos montes no carnaval e insistem em desaparecer no restante do ano, quando o frio e os ventos adversos parecem obrigar-nos todos a sobrepor roupas e mais roupas que disfarcem formas mais generosas. Mas a negrinha tinha uma cara de bandida que dava até medo. Medo de ser feliz inclusive. Então, após as divergências serem amenizadas, ela trouxe uma amiga sobressalente, mas que era bisonha, e quando a gente viu o Gabriel já estava aplicando um Roto-Rutter nela. Sucção total. De ponta a ponta. Que vergonha do Gabriel. Shame on you silent boy! Todo mundo tentou evitar, mas o cara nem quis saber. Mandou ver na língua e resolveu levar pro programa. Tudo certo até então, só que aí reapareceu a nêga bandida e disse que ia junto. O Gabriel, que não tinha nada a perder, talvez tenha curtido a idéia de fazer um ménage a trois. Ou, quem sabe, apenas imaginado.
Em questão de segundos, sem que pudéssemos reagir racionalmente ao impacto visual que a cena nos provocou, os três saíram porta afora e nenhum de nós pôde, ou conseguiria, fazer nada. Mesmo que quisesse, pagasse, ou sei lá o que.


Corta

KIMBAL - o Retorno

Volta

Sábado, 24 de abril de 2004 – 05:30 da manhã



São cinco e meia da manhã e nós estamos novamente em frente ao Kimbal, e, desta vez, NÓS decidiremos se vamos entrar ou não. Pagando, é claro. Nem sinal do mutante que nos recebeu há mais ou menos uma hora. Apenas restos de secreção pelo chão e paredes, e algumas almas voadoras vagando inconscientemente pelo limbo das varejeiras. Um caleidoscópio incandescente e desordenado dentro dos refúgios de seu caos. Moscas mortas, nada mais. O fluxo de carros na avenida Farrapos está chegando ao seu ponto de transição. As últimas pessoas estão voltando para casa, sem a certeza de que irão chegar, depois de uma noite de sexta-feira, e, algumas outras já estão saindo para o seu ingrato expediente de sábado ouvindo os recados que algum radialista bêbado vai dando entre uma música deprimente e outra não menos. Meus castigos eu carrego comigo. No cartaz dizia R$ 12,00 c/ 3. Pra mim parece fácil demais. O Sr. Paulão, um baita de um crioulo, parecido com o Shaft, que cuida da portaria e também deve ser segurança da casa, explicou:
- Não magrão, é doze reais com três cervejas. No baldinho.

Claro... Parecia fácil demais. Talvez eu tenha subestimado o nível do estabelecimento.
Estou ficando bêbado e com sono. Já nem sei se tenho vontade de embarcar nessa jornada ao centro da terra. A temperatura lá embaixo prometia subir. Talvez não estivéssemos equipados com o material necessário. Sem falar na experiência... Quem de nós poderia imaginar o tipo de criaturas que encontraríamos pelo caminho. E se lá embaixo jamais amanhecesse? Se as portas por trás de nós se fechassem como dentes e o corredor nos deglutisse como uma enorme garganta para o inferno? Enfim, quem iria voltar pra contar a história? Quem iria pagar a próxima cerveja? Quem!? Quem!?
Com um pouco de conversa o grande Paulão aceitou que nós pagássemos quarenta reais e todos entrariam com direito a um baldinho com nove latinhas. De Antarctica. Pra quem já estava bêbado era só mais um passo em direção ao inferno. Ou um empurrão. Mas tudo bem, isso era um sinal. Poderia ser Kaiser ou Bavária comum. Ainda estávamos no lucro, apenas não tínhamos entrado, ainda. Essa era a parte que poderia mudar tudo. As mãos suavam, a indecisão tomando conta. Os pensamentos eram como flechadas indígenas através de nossos chapéus. Passando rente à cabeça. Quase acertando. O cérebro pulsando como não poderia ser. Ficamos nos olhando, rolou aquele questionamento geral, alguns queriam outros não. Pensei brevemente n’O Caubói. O Caubói poderia fazer a diferença nesse momento. Mas a essa altura O Caubói não podia mais nos ajudar. Eu acho.
Tomei a decisão de entrar quando vi essa ruivinha linda entrando de mão dada com outra menina que eu não pude analisar muito bem. Duas meninas de mão dada são sempre um convite convincente. Ás vezes, é claro, as expectativas geradas são muito maiores do que a coisa toda, mas, afinal, quem vive na expectativa sempre cansa. Vamos aos finalmentes! A amiga da ruiva era um monstro. Diferente dos outros seres mutantes que eu encontraria lá dentro, mas horrível assim mesmo. Bizarra. Muito pior do que o resto, dadas as proporções. A ruiva não. Era toda delicadinha. Eu estava boiando em meus pensamentos, ali na frente ainda, e ela me fisgou. Senti o anzol ardendo em meu nariz e pensei ser outra coisa, mas assim mesmo não importava. Não tentei desviar nem refleti, apenas fui atrás. Idiota. Me portei como um idiota. Avisei que ia entrar e todo mundo acabou entrando. Talvez fosse só isso o que faltava, um estopim, mesmo assim ninguém parecia decidido a tomar a dianteira. Dei dez reais e tomei o rumo da porta. Não sei como aconteceu, mas em questão de minuto estávamos todos nas dependências escuras daquele lugar até então desconhecido para nós, chamado Kimbal Night Club.
Uma vez lá dentro, sentamos em uma mesa redonda logo à esquerda de quem entra, a terceira. Próxima ao bar e com vista direta para o palquinho que ficava na sala adjunta, no outro lado do salão. O clube dos cinco. Sentados no banco acolchoado, no sentido anti-horário, eu, Louis, Gabriel e Papi, e, numa cadeira, o Fábio. Com a chegada do baldinho maldito e suas nove latas de Antarctica, começamos a empurrar cerveja pra dentro, pois ninguém mais estava com a mínima vontade de beber. Era como um ritual de auto-flagelação. Cada um olhava ao redor para se certificar de que os outros também estavam sofrendo pra beber a sua parcela de veneno. Anta após Anta. Eu olhava o salão semi-vazio, no que podia-se chamar de “início de noite” e não via ninguém que prestasse ao redor, só caco-velho e gordas escrotas se oferecendo. Escrotas não pela gordura, mas por outros detalhes impronunciáveis. Por terem saído de sacos escrotais escrotos. Colecionarem relaxamentos e hábitos anti-higiênicos abandonados no período jurássico, na idade da pedra fumada. Escrotas porque não havia nada inferior que as classificasse e que alguém não pudesse constatar à primeira vista. Escrotas como pus vencida, pode ser. Anyway... Podia jurar ter visto um tiranossauro rex cruzando em direção a um enorme hipopótamo pré-histórico que estava na entrada dos banheiros. Chegando lá ele apenas levou uma de suas pequenas “mãozinhas” até a boca e, batendo nos lábios com dois dedinhos, pediu fogo. Depois me encarou por um instante em que seu olhar brilhou em vermelho com a mesma intensidade que a brasa do cigarro se acendia, e assim que eu pisquei os olhos ele desapareceu na fumaça. O hipopótamo nunca mais foi visto e nem é seguro mencionar o seu nome em vão. Até sou capaz de jurar nunca tê-lo visto. E nem sei mais do que eu estou falando.
O lugar, no geral, mais parecia um açougue de vila – só carne de quinta categoria. Mas como todo açougue de vila, é justamente lá que se encontra filé pela metade do preço de mercado. Porque ninguém de nível, e em sã consciência, procura filé num lugar assim. Não mesmo. Nem picanha, ou sequer, alcatra.
Passado o entusiasmo inicial, e uns quarenta e dois minutos também, começou a entrar gente e a casa “recheou-se”. Dos piores ingredientes que A Grande Porto Alegre pode produzir. Uma trufa de cereja ao rum ou de coisa ruim, como preferir. Analisei as características dos freqüentadores ao redor e percebi que a nossa mesa não estava convidativa, cheia de machos e todos com cara de poucos amigos. Ninguém, mesmo que quisesse, poderia sentar-se conosco. Animação não era o nosso forte. Pelo menos não nesse dia. Refletíamos apenas o fim de expectativas de uma geração. A consciência de que tudo está perdido, inclusive, aquilo que, sabia-se muito antes, nunca ser possível alcançar. As ilusões todas. Adeus, adeus. O kilômetro um de uma estrada pra lugar nenhum. Road to nowhere. Everybody knows is this it. Então me levantei e fui dar uma circulada, afim de me enturmar com os locais e deixar a mesa mais espaçosa para que alguma amiga pudesse sentar com o resto da gangue. Peguei meu copo, escorei numa parede e logo o Fábio já estava me rodeando, ele sabia que eu estava mal intencionado e provavelmente não estava com sentimentos diferentes. Defini meu alvo e tratei de traçar planos para a abordagem. Estilo Mancuso ou Antônio Carlos? Em vista das dúvidas, fui cercando aos poucos e então que notei no seu braço esquerdo uma tatuagem ridícula do Scooby-Doo. Sim, believe it or not, ela tinha uma tatuagem do Scooby –Doo. Só de rosto, claro. Pronto, já tinha o enredo da conversa. E depois, bastava apresentar a ela o Salsicha. Mesmo que fosse apenas pra fazer uma piada sem graça. Extremamente sem. Cheguei do lado dela, olhei para os lados, tomei um gole de cerveja e sequei a boca com as costas da mão. Pra não cuspir enquanto falava. O que seria bastante desagradável. Mesmo num ambiente escroto como aquele.
- Diferente essa tua tatuagem, hein?
- Pois é, acho que ninguém tem, né? – Tenho certeza de que ela falou isso a sério, e nem haveria porque de ser diferente. Eu acho... ninguém que eu conheça faz tatuagens por “arreganho”.
- Não... Realmente é uma coisa ímpar. – Falei, com um grau de ironia absurdo que talvez só eu tenha percebido ou entendido. Eu acho também...

Fui me desvencilhando como quem não quer nada e dando a entender que já havia dado o meu recado, só restava a ela refletir sobre a situação e agir conforme. Eu também tinha que me valorizar um pouco, ou não. Aos poucos outros caras começaram a rodeá-la e pagar bebidas. O que se há de fazer? Continuei tomando a minha cerveja com o pessoal, afinal, estávamos lá para nos divertirmos, ninguém tinha a intenção de “casar na festa”, já que nem sabíamos o que ia se encontrar lá dentro. O Papi já estava meio de amasso com uma baixinha boa de bunda, e, tão logo, estava ele num sofá dando beijo adoidado naquela puta feia. Entendam, a mina tem um corpinho legal, mas, cada um dos olhos dela vai para um lado e nunca se sabe se ela está te encarando ou te olhando feio, porque a danada tem uma cara de braba ao natural – parece que está sempre com nojo. Talvez seja difícil não estar sempre com nojo quando se tem uma cara daquelas e um espelho em casa. Sem falar que o mundo em que ela vive é exageradamente espelhado, deve ser um castigo. O rabo dessa baranga era algo de impressionante, tanto que o Louis passou a semana inteira pedindo o telefone dela pro Papi, que, muito enciumado, não queria dar e ficava enrolando e mudando de assunto. Eu certamente entendo. A mulher do cara é a mulher do cara. Mesmo que seja uma puta. Quem se mete com a mulher do cara vai ter que prestar contas. E em relação aos amigos pior ainda, vinte anos depois a mulher do cara ainda é intocável, se algum amigo cobiça a mulher do cara, ele vai ter que prestar contas também. Maiores. Se você dá valor aos dentes não se meta com a mulher do cara, a não ser que você seja um cretino masoquista e idiota e esteja disposto a pagar duras penas por seus atos. Não era o nosso caso, e nenhum de nós teria o prazer de bater em um cretino masoquista. Não por prazer, é claro. Ao fim, todo mundo ali respeitou a mulher do Papi. O Louis brincou, mas na verdade ele sabia a coisa certa e baixou a bola. Certamente que sabia. Mesmo nos momentos em que a mulher do Papi foi mais receptiva aos amigos dele, nós soubemos evitar qualquer mau entendido, afinal o cara era nosso amigo e estava usufruindo alguns prazeres da vida. Assim como é de direito de todos os milhares de espermatozóides que atingem seu objetivo. Cada um ao seu tempo, individualmente.
Papi Gigolô de Puta Rica, esse era o cara, a vagabunda tinha um Paliozinho e uma casa em Canoas. Ela levava o Papi pra casa dela e ele passava o fim-de-semana todo lá, comendo aquele rabo enorme e gostoso. Pelo menos foi essa a versão que eu soube da história. Diz o Fábio que ela vai almoçar com ele no centro de vez em quando e é ela quem paga tudo. Legal, se o cara come fora, ele tem que sustentar a casa, mas, se a mulher do cara dá por dinheiro, ela tem que sustentar o cara. Claro que nem sempre é assim. Mas naquele dia o Papi deitou e rolou, enroscou a língua com a dela tanto que eu e o Fábio não conseguíamos acreditar. Diz o Fábio que na volta pra casa ele parou em todas as quitandas, fruteiras, botecos e mini-mercados no caminho para comprar Coca-cola ou suco de laranja, pra ver se desinfetava a boca. O Gabriel fez pior mas o episódio dele vem depois.
Tinha umas vagabundas muito feias nos rodeando a todo o momento e uma que insistia em chegar na minha frente e mostrar o peitinho, que era uma coisa horrenda. Uma gorda feia feito caminhão de lixo enfeitado com motivos natalinos em pleno carnaval, e com umas tetas pequenas e molengas que caíam rente à barriga e me deixavam com ânsia de vômito. Eu disfarçava o olhar e buscava no fundo do meu subconsciente um assunto pra discutir com alguém ali presente e fugir da cena do crime. Mas ela chegava junto.
- Oi, tá acompanhado?
- Não, não, tô bem assim. Tá melhor, obrigado.

Eu sempre agradecia. Dispensava e quando ela estivesse indo embora eu fazia um carinho no braço dela ou nos cabelos. Talvez por pena. Mas, pena é coisa de galinha. Galinha do tipo animal mesmo, aquelas que rendem ovos e galeto com polenta, e não galinha no sentido figurado. Mas é sempre melhor ser educado e agradável, eu não sou louco de pegar o ódio de uma puta feia dessas, ou pior, ela espalhar que eu sou bitchona, brocha, aidético ou algo parecido. Sem falar na chance de ela enfiar um tijolo bem no meio do meu carro. Ou da cabeça, quem sabe...
E teve uma outra que chegou como quem não quer nada, parou na minha frente e encheu a mão com os meus bagos (encheu bem a mão, viu!? as duas talvez...), me olhou e disse:
- OOOOOOOOOI?
- Não é bem por aí que começa... – Respondi sério e tomando fôlego, esperando não ser esmagado.

E ela se deu conta e foi embora, acho que meteu a mão nos bagos do Fábio ou do Louis, sei lá. Não é o tipo de coisa que necessite ser confirmada. Ainda mais entre amigos. Distraí-me um pouco com os showzinhos de péssima qualidade que rolavam de tempo em tempo, enquanto isso os caras do mal continuavam rondando a mina de tatuagem do Scooby-Doo, e de tempo em tempo, também, nós nos encarávamos. Já sabia que alguma coisa ia rolar. Estava no ar. Bastava um detalhe para liquidar. Como as moscas bêbadas que o lagarto mutante consumia na frente do bar, às quatro e meia da manhã. Passado algum tempo, ela foi se tornando mais vulnerável, devido à quantidade de bebida que já tinham posto na mão dela, e com certeza à quantidade de pó que ela já tinha cheirado no banheiro com as amigas. Tomei coragem e cheguei do lado dela, apesar de ter um cara bancando whisky, e isso poderia ter ocasionado um grande acidente. Gritei no pé do ouvido, da maneira que o barulho da casa exigia, e com o gaúchês alterado e inconjugável de todo bom porto alegrense bêbado:
- Tu veio aqui a trabalho, ou pra se divertir? – E ela me olhou esperando que eu mesmo desse a resposta. E foi exatamente o que eu fiz.
- Porque se tu veio pra fazer dinheiro eu vou embora, mas se tu quer te divertir larga esse cara e vem comigo, porque só o que ele tem pra ti é dinheiro.

Relembrando isso, penso que realmente é uma cantada original. Aposto que o Richard Gere nunca pensou em algo assim, com tamanha sinceridade e romantismo. Ohhh Pretty Woman. Ela deu um sorriso, mas não respondeu e eu deixei-a lá e voltei pro meu canto. Eu não era o Richard Gere, e, continuo não sendo. Mas a cantada era boa, tanto que surtiu efeito.
O Louis já tinha ido embora, pegou dez reais emprestado com o Gabriel para pagar o táxi e se mandou. O Papi estava entretido com a sua “namoradinha” e o Fábio estava junto com ele. Achei até que os dois estavam pegando a mina ‘de dupla’. Aí então, do nada, a guria se sentou no sofá ao lado do que nós estávamos antes e eu nem pensei duas vezes, sentei do lado dela e comecei a fazer um carinho no pescocinho. Como quem não quer nada. Falei umas coisas legais pra ela e já comecei a abraçá-la com toda a minha versatilidade de octópode e aderência de molusco. Bêbado fica logo emotivo e carinhoso, fala qualquer coisa que vem na cabeça e depois se arrepende e nega. Nega cem vezes, com direito a juramento pela mãe e tudo o mais. Mas esse não era o caso, porque puta adora um romance, alguém que trate ela como se fosse uma namoradinha colegial e, é claro, pague a sua bebida. Aí, entre um amasso e outro, eu engatei a conversa.
- Quem sabe a gente não vai pra outro lugar?
- Porque? Tu não gosta daqui, não tá gostando? – Ela parecia realmente em dúvida e eu fui sincero.
- Até gosto, mas a ceva é muito cara e logo eu vou ficar sem dinheiro. Queria esticar um pouco mais ainda.

Sincero como não se deve ser...

- Ah, vai acabar o dinheiro? – Falou, me ironizando. Aí eu tive que dar uma curva. Estilo Tamburello talvez, semi-suicida.
- Pois é, eu não vim com muito dinheiro, então se quiser a gente pode ir pra um postinho e comprar cerveja lá, com o cartão.

Mas a merda é que ela queria mesmo era ficar por lá, que era onde estavam as suas amigas, as bruxas más do leste e do oeste, com o pó mágico de pirilimpimpim que haviam roubado da Sininho. Eu era um garoto perdido, sem dúvida, na minha Terra do Nunca particular. Uma das poucas certezas à qual tinha direito nesse horário. Aí mudei de assunto, assoviei um ritmo incompreensível do refrão de um axé que ninguém nunca ouviu e joguei um pouco de cerveja nos olhos pra limpar as remelas que iam se formando pelo coletivo de sono e cansaço em que eu me encontrava, fiz de conta que estava curtindo aquele carnaval canibal e tudo o mais, e ela foi se soltando, começou a se deitar por cima de mim e eu educadamente comecei a manipulá-la. Meter a mão, no linguajar popular. Ao som de Madonna. (ou seria Peter Frampton?)
A “gatinha” do Papi foi embora, sem mostrar o fim do filme, e ele e o Fábio ficaram meio que sem ter o que fazer ali naquele antro de perdição. Será que o Papi havia se apaixonado?? Um pouquinho talvez, ou então, sei lá... Notei logo ele e o Fábio sentados no sofá atrás do que eu e ela estávamos – aquele mesmo em que nós cinco sentamos na chegada – e já calculei que os dois estavam só esperando pra ver se eu ia sair dando beijo na boca, assim como ele mesmo, o Papi, e o Gabriel tinham feito com suas respectivas. Talvez sim, provavelmente, mas, como o público pagante era zero, esperei o tempo que foi necessário para iniciar as atividades mais íntimas. Menos íntimas do que o próprio Gabriel estava fazendo em um quarto de motel não muito longe dali, e que renderam tantas decepções para ele quanto diversões para nós, que ouvimos a história em primeira mão, do próprio. Se eu imaginasse a metade, não teria esperado tanto tempo para perder a cabeça, mesmo sob supervisão dos amigos.

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Sexta Feira, 23 de abril de 2004 – 23:00 aproximadamente.



Fomos para lá e havia alguns tipos esquisitos na entrada. Um cara que mais parecia um mico-leão-dourado num corpo de gorila. Nada podia ser mais ridículo, nem o gordinho da Bidê ou Balde, nem o Albino. O cara tinha feito luzes no cabelo, no estilo Bon Jovi Keep the Faith, usava uma camiseta justinha sem manga, espremendo todas as graxas que ele comportava – uma filial ambulante do Brasinha, com uma variedade de pneus desde bicicleta Caloi 10 até trator Massei Fergusson – e ainda um óculos de sol fashion-pobre colorido. O infeliz ria pelos cotovelos fazendo pose de gostoso e eu só de olhar praquele macacão loiro já ficava com vontade de chamar o Spectreman, aquele outro super-herói japonês. “DOMINANTES ÀS ORDENS!” E ele ia fazer o graxudo engolir aquele óculos e soltar raio laser pelo cú (ou luz negra talvez). Entramos e fomos direto ao ponto, onde estava rolando a festa. Lá em cima, pra minha surpresa, estava tocando uma dessas bandas de baile modernas, que tocam quase tudo, mas não são tão chatas quanto aquelas de formatura e casamento, ainda mais quando se está bêbado – tanto que o pessoal estava gostando bastante. A única pessoa na festa que parecia não estar gostando era justamente a mulher mais bonita do lugar, e ela estava sentada num canto no fundo do salão olhando meio sem brilho pra lugar nenhum. Tem o perfume dos anjos. Goldie. Ela diz que seu nome é Goldie. Ou talvez eu apenas tenha imaginado isso? Sim, sim, é o mais provável. Ela talvez até fosse muda e tivesse perna mecânica, nunca saberei. Acompanhei-a com os olhos a noite inteira mas não fui capaz de esboçar qualquer movimento em sua direção. Ela merecia o que quisesse e talvez fosse aquilo mesmo, a inércia total.
Comecei a tomar umas cervejas, apenas para ter algum motivo de circular lá dentro e então o Fábio e eu fomos até o terraço dar uma olhada na rua e tomar um ar, além das cervejas. Pero nada me hará tan feliz como dos margueritas. O Louis chegou trazendo uma marguerita e o Gabriel, e logo nós detonamos a marguerita que rapidamente foi substituída à altura, por outra. As horas iam passando sem grandes novidades e de repente sobe ao palco o graxudo e toma o microfone. Péssima novidade. Começou ali uma sessão de funk Jota Quest e aqueles clichês básicos como Primavera, Você, e outras coisas que o Tim Maia cantou, além de uma coleção de Jorge Ben Jor e Noite de Prazer do Cláudio Zoli, aquela clássica e já insuportável do refrão ‘...trocando de biquíni sem parar...’. O Donkey Kong não parava de suar e àquela altura, ele já estava quase se tornando a bola espelhada da festa, o suor nele fazia a iluminação do palco refletir. E ninguém parecia se importar com isso, apenas eu. Aquele macacão estava ofuscando os músicos todos. O tecladista, que já havia desistido de tocar a horas, pegou seu copinho de Natu Nobilis e foi sentar-se na mesa com a namorada enquanto o guitarrista começou a dar umas pegadas no microfone pra ver se o gordo aliviava. O vocalista da banda a essa altura já tinha enchido a cara e começou a encher também a paciência de todas as coroas da festa. Felizmente o cara era feio pra caralho e ninguém dava bola pra ele. Mas, por coincidência, também não estavam dando bola pra gente. Soy un perdedor, I’m a loser baby, so why don’t you kill me? Perdedor ao extremo, só conseguia atenção no palco com um microfone na mão. De resto, era só mais um feio tentando aprender o balé envenenado da vida. Começamos a perder a paciência, de tempo em tempo íamos ao encontro uns dos outros pra comentar que a festa não estava sendo exatamente uma “festa”. Um após o outro, não parávamos de perguntar pro Bandeira que horas ele ia começar a trabalhar, porque a banda não parava de tocar. Enxotaram o mico sagüi do palco e o guitarrista assumiu os vocais sem grandes demonstrações de talento nem de vontade. Já era hora mesmo de a banda parar, eu já estava cansado por eles, apenas simulando uma dancinha estúpida do outro lado do salão, tentando me aproximar de umas titias que estavam pra lá de bêbadas e de repente me pareceu a oportunidade mais sólida de eu me engatar numa coroa. Aquela velha história, “não sou rei, mas adoro...” Em pouco tempo, eu acho que elas sentiram minhas reais intenções – que comecei a esfregar o peru nelas enquanto dançava – e caíram fora. A essa hora eu já tinha desistido da educação que me foi dada nas rigorosas escolas da Europa. A bonitona já tinha ido embora, talvez sua perna mecânica tenha atrofiado por ficar na mesma posição a noite toda, ou tenha tido uma cãibra pela falta de potássio. O Monkey Man foi visto no fim da noite dependurado sobre uma caixa de som agarrado em um cacho de banana. Poderia ter sido mais útil. Agora só restava uma máquina na pista, mas eu não sabia se o cara que estava perto dela pilotava ou apenas estava auxiliando no pit stop, pagando os drinks. Na dúvida, preferi não arriscar. Era uma mulher espetacular, dançava frenéticamente usando uma roupa vermelha justinha, talvez de couro, reluzente e extremamente sensual. Uma Ferrari. Ela parecia uma Ferrari. Se dissesse que tinha vinte e cinco anos eu até que não ia acreditar, mas que ela aparentava uns dez anos a menos do que devia ter, isso sim era verdade. Uma mulher de uns quarenta anos, com certeza, mas, respeito acima de tudo. E ela tinha peito e tudo em cima.
Finalmente, diferente de nós solteirões convictos e com grandes dificuldades de se relacionar, um amigo do Papi meio metido a forte, fez a proeza de pegar a mina mais gorda da festa e tava se achando o bom. Pobre dele, nem pra dar um baguinho ela serviu. A mina foi embora com a mãe e ele ficou chupando dedo. Como é que um cara consegue deixar escapar a mais gorda da festa? Essa mina deveria estar louca pra dar, ela com certeza deve passar a vida procurando um cara que tenha um pau grande o suficiente para ultrapassar as infinitas dermes dela e alcançar a sua buceta fedorenta e assada depois de uma noite de dança. E, é claro, um cara com Q.I. inversamente proporcional ao tamanho do pinto, ou uma exclusiva dificuldade de discernimento que impeça de ver as suas dimensões avantajadas. Talvez tenha sido melhor pra ele ficar só na punheta. Na maioria das vezes é o melhor que se tem a fazer. Evil dick! Nós somos uma família de perdedores.
A banda pediu um tempo e eu percebi que tinha encerrado. Começaram a guardar tudo, já eram duas e meia da manhã, finalmente o Bandeira ia tocar. Só que ele não chegou a tocar nem dez músicas e já tinha ido todo mundo embora. Na verdade, acho que nem dez minutos. Mal percebemos que o Bandeira estava tocando e já não tinha mais ninguém na “festa”. Apenas nós. O dono do bar sentiu o prejuízo e forçou a banda a subir no palco e começar de novo, mas já era tarde, a casa estava vazia. Acho que até alguns dos garçons já tinham ido pra casa. O repertório dele não estava ruim, apenas eu acho que os coroas queriam era ver a banda mesmo, com direito a pocket show do gordo de óculos de sol espelhado (se é que algo dessa dimensão pode ser chamado de pocket) e crooner convencido varrendo as mulheres da pista para longe. No pouco tempo que teve, o nosso amigo Dj tentou recuperar o público perdido e evitar que as pessoas que tinham ido ao banheiro mijar antes de ir embora realmente fossem. Tanto que ele tocou até um Dee Lite. Não tem quem não goste de Dee Lite. Groove is in the heart. Óculos estrelados. Bootsy Collins e coisa e tal.
Acabamos acatando a decisão do público em geral e tomamos o rumo da rua também. Nós descemos as escadas até o guichê de pagamento e o Bandeira liberou o couvert de todo mundo, cada um pagou aquilo que tinha bebido e só, até porque na verdade ninguém tinha aproveitado nem uma música que ele tocou. Infelizmente. Quando liquidamos as consumações todas e ele achou que ia sair junto pra fazer outra trilha com o pessoal, o dono do lugar chamou-o e mandou ficar. Alegando que ele ainda ia trabalhar aquela noite. Porra, sem noção. O cara tinha cheirado um resto de CasCola no apartamento da Xanda antes de ir pra lá e depois começou a tomar ceva, deu uns tecos e ainda queria dar mais? Dessa vez o Bandeira queimou o filme legal. Pelo menos foi isso o que eu pensei na hora, felizmente, eu acho que o pessoal do bar não esquentou muito a cabeça. Esse é o Bandeira. Sempre dando bandeira. Black Flag.
Nós que ainda podíamos, saímos e paramos na esquina. Tentamos fazer algum tipo de proteção, mas o vento era muito forte pra esticar alguma coisa ali. De repente, do nada, da escuridão da rua em que estávamos surgiu o Demutti e um amigo caminhando na nossa direção. Ele se aproximou, cumprimentou o pessoal todo e mostrou um porta-incenso que tinha comprado de algum maldito-hippie-sujo-maconheiro do Brique da Redenção e eu peguei uma ‘carona’ com eles pra buscar meu carro na frente do Ossip, ainda pensando em tomar uma ceva por lá antes de voltar.
Já estava fechado. Fiz a volta na quadra e fui encontrar os Terroristas na esquina da José do Patrocínio com a República. Depois de discutir sobre o que ia se fazer, eu e o Gabriel fomos pegar o carro do avô dele nos fundos da casa do Louis e encontrar o resto na esquina do Ossip. Nem sei porque, já que estava fechado. Falta de comunicação.
Trupe reunida novamente, conversamos até decidir ir para algum lugar. Gabriel, Louis e Fábio no Escort e eu e o Papi no Gol. Fomos em direção ao galpão do IBGE, onde freqüentemente rolavam as festas do Oito e Meio Bar e do Atelier, pra ver se estava rolando alguma coisa e, apesar da hora, nós íamos entrar de qualquer jeito. Já era quatro da manhã, eu estacionei, peguei minha mochila e fui trocar de roupa dentro do carro, eu não ia enfiar meu sapato naquele barreiro, que nem velho era, tendo um tênis e uma bermuda na mochila. O Gabriel entrou do lado do passageiro e esticou duas linhas sobre o painel. Mandou ver numa e deixou a outra pra mim. Pra quando terminasse de trocar de roupa. Dei um teco e botei um blusão de moletom porque estava frio pra cacete, eu achei até que os meus dentes iam cair – e olha que já fazia tempo que eles estavam anestesiados. Quando chegamos no portão para entrar o porteiro disse que a festa era particular e já estava acabando. Mesmo pagando nós não poderíamos entrar. Ainda insistimos por um tempo, mas ele firmou sua posição e definitivamente ficamos de fora. Então já era. Nada de açoitar cavalo morto. Voltamos pros carros e resolvemos decidir pra onde ir. A primeira opção era o Habib’s já que todo mundo estava com fome e a fim de economizar uns pilas pra cerveja de sábado, mas o Louis não queria ir lá de jeito nenhum – até hoje não sei porquê – como não aparecia uma segunda opção, eu falei: “Vamos pro Habib’s depois lá a gente decide se vai pra outro lugar.”
E ele então concordou. O importante era não ficar parado ali, até porque estávamos com um monte de coisa “em cima”. Como era o Fábio quem estava dirigindo o Escort e não o Gabriel, tive que ir com calma, pois o Papi não parava de resmungar:
- O Fábio é maneta na direção, fica se amarrando. Fica se amarrando.

Talvez o problema do Papi fosse fome, ou alguma experiência antiga com o Fábio no volante. Não sei, o fato é que fui calmamente para o Habib’s e, sem sombra de dúvida, chegamos antes. Mas, logo encostei o carro na entrada e eles pararam do nosso lado. O Louis se retorcia em gestos violentos de dentro do Escort tentando chamar nossa atenção para que baixássemos o vidro do carona.
- Vamos pro bar onde as putas terminam a noite, tu sabe onde é?
- É um pouco antes do hotel Umbu, tô indo.

Fomos. Ninguém pegou nem uma esfiha pra distrair as lombrigas. Na verdade o tal bar fica bem antes do hotel, mas naquela altura do campeonato já não importava mais. Subi a Mostardeiro (o trecho entre a Goethe e a Cel. Bordini, é claro) e dobrei à esquerda. Desci toda a Bordini e quando chegou na esquina com a Cristóvão Colombo eu fiz uma barbeiragem rápida e entrei à esquerda, mas o Fábio seguiu a legislação e dobrou à direita na Benjamin, seguindo em direção totalmente contrária ao nosso destino. Imagino a volta que ele deve ter feito. Segui pela Cristóvão e como se estivesse sendo guiado pelo capeta dobrei na Conde de Porto Alegre e depois à esquerda na Farrapos, rodei mais um pouco e encostei. Bem na frente do lugar. Não sei como, pois na Farrapos existem uns vinte inferninhos desse tipo e não tinha nenhuma placa que indicasse este, e mesmo que tivesse, nós nem sequer imaginávamos o nome. Passados uns dez a quinze minutos aproximadamente, apareceu o Escort no meu retrovisor esquerdo e eu fiz sinal pra eles encostarem na minha frente. Já desci arriando o Fábio pela volta que ele fez e ele me contou que tinha passado na frente da Taberna e ainda estava aberta, tinha um pessoal novo saindo. Esse pessoal novo eu acredito que fosse a turma do Christian.
O Christian é uma figura, ele chegou na Taberna um pouco antes de eu ir embora, mais ou menos sete da noite, e estava saindo agora, é aquele tipo de cara que está na lista negra da cirrose, só ele é que não sabe. Ou sabe e nem se importa, bebe pra esquecer. Isso inclusive. Eu, durante muito tempo, odiei o Christian por ele chegar no bar segunda-feira à meia-noite e ficar ali pedindo dois ou três choppinhos, cada um demorando mais de quarenta minutos para ser consumido, quando eu já estava louco pra ir pra casa dormir e ele já tinha tomado duas dúzias de cerveja em algum outro bar. Hoje eu respeito e até acho que ele tem futuro. Não muito, mas algum. Grande cara o Christian. Eu nem sei se é assim que se escreve. Foda-se. Nada na minha vida depende de saber escrever corretamente o nome de um ‘cachaça’.
Cortado o papo furado, entrei no carro e troquei de roupa novamente, estava ficando frio e este era um lugar interessante de se entrar de sapato e camisa social, não de bermuda, tênis e moletom. Puta gosta disso, dá impressão de status. Executivo. O que não era o meu caso. Não dessa vez pelo menos.


Corta

PINGUZZO’S, TABERNA, GUM, BAR do ADRIANO & OSSIP

O roteiro do dia havia sido este, pelo menos pra mim...
Sexta-feira, 23 de abril de 2004 – Das 12:00 às 23:00



Eram 12:35 quando eu entrei no ambiente esfumaçado do Pinguzzo’s naquela sexta-feira. O proprietário, Giovanni Pinguzzo, estava sentado na sua mesa habitual no canto do salão conferindo se os velhos garçons davam o atendimento merecido a uma meia dúzia de clientes cativos. Coisa que nem era mais necessária, mas ele não gostava de fazer vistas grossas. Não no que envolvia o serviço prestado pela casa. É cosanostra.
Freqüentemente eu evitava o almoço para tomar uma gelada no Pinguzzo’s. Uma não, duas, no mínimo. Hoje não seria diferente. O calor estava incomodando até o asfalto. Derretendo-se e retendo a borracha dos pneus dos carros e dos sapatos dos desavisados. As Havaianas vadias dos pés-de-chinelo da avenida Assis Brasil. Estufando as pilhas alcalinas dos camelôs. Sem energia. O Haiti não é aqui. O IAPI é logo ali, mas não é pra qualquer um.
Não agüentava mais ficar dentro do escritório e então desci e fui resolver meus problemas. Logo após entrar sentei-me no balcão e pedi uma Brahma. Bem gelada. Três copos depois ela foi substituída a altura por outra não menos gelada. Vestida de noiva. Pronta para casar, levaria pra casa se soubesse que isso não causaria transtorno. Poderia pelo menos tirar uma foto se tivesse câmera. Em meio a esse coletivo de impossibilidades, emborquei mais essa garrafa. Fiz sinal para que o garçom esperasse quando vi que ele já estava sacando outra de dentro do freezer. Fui até o banheiro sob a supervisão silenciosa dos que estavam no local, inclusive do garçom. Urinei com calma. Balancei meu pau o suficiente para quase ter uma ereção e mesmo assim, ainda guardei uma gota de urina para a calça. Lavei as mãos e esfreguei-as nas calças, porque, pelo visto, o senhor Giovanni novamente não havia comprado papel toalha para os banheiros. Sentei-me no mesmo lugar onde havia sentado antes e fiz sinal para que o garçom me trouxesse enfim a terceira. Percebi que ele não tirava os olhos de mim desde que eu havia sentado naquele balcão a primeira vez. He’s got a TV eye on me. Após alguns goles, quando minha paciência finalmente esgotou-se perguntei:
- Que pasa?

Ele encarou-me um instante e depois baixou os olhos para o meu casaco que jazia no banco ao lado, logo voltando a encarar-me como se quisesse que eu seguisse o seu olhar, e conseqüentemente, seu raciocínio.
- O casaco – falou, referindo-se ao meu antigo uniforme azul escuro com listras brancas nos braços e nos punhos, e levemente surrado pelo tempo que eu carregava comigo nem sei porque, já que o calor não dava sinais de que fosse cessar.
- Reformado da Marinha – sussurrei sério. E emborquei mais um gole de cerveja.

Ele interrompeu por um instante a atividade que exercia (passar pano no balcão, mal e porcamente) e olhou-me questionando incrédulo.
- Marinha Mercante? Do porto de Casino?
- Do Forte – respondi – Avenida do Forte, extinto Marinha Magazine.

E o assunto acabou aí. Terminei a minha cerveja e paguei a conta. Sete e cinqüenta. Bom e barato. Não fossem tão relapsos com o papel toalha, eu diria até que é um ótimo ambiente familiar. Enfim, a mim me bastava. Freqüentava constantemente apenas para tomar duas ou mais cervejas, e distrair os pensamentos em meio ao silêncio fúnebre do local e ao baixo nível dos poucos diálogos dos outros freqüentes. Após ter um pouco mais de intimidade, fui descobrir mais tarde que o Sr. Giovanni era parente de ninguém menos do que Valentino Guzzo (ou Pinguzzo, como era seu nome verdadeiro, de batismo, como se diz), a Vovó Mafalda. Primeiro entertainer transex em programas infantis. Assistente do Bozo, aquele palhaço.
Os dois haviam vindo da Itália fugindo da guerra escondidos no porão de um navio. Descascando batatas e alimentando a fornalha dia e noite, sempre com a promessa de ter uma vida melhor na América. Que perda de tempo. A Itália se reergueu rapidamente após a guerra, já o Brasil, nem com supositório de Viagra.

A tarde de sexta não foi muito agitada em termos de trabalho. O calor continuava, pouca atividade na rua e uma vontade de deitar a cabeça na mesa e esquecer os problemas. Deitar os problemas na mesa e esquecer a cabeça. Deitar os problemas na cabeça e esquecer a mesa. Deitar na mesa e esquecer de tudo. Circulei um pouco dentro da sala e só o que eu consegui fazer foi suar. Espiei pelas persianas, o pó das janelas não permitiu ver nada. Abria a janela e no horizonte se aproximava uma onda imensa. Uma onda imensa de calor. Não bastasse o insuportável, algo maior se aproximava. Os carros correndo pareciam fugir. As pessoas desnorteadas descendo dos ônibus. Uma turma de moleques em suas bermudas e chinelos de dedo fingindo que o verão não acabou. “Ei! Que tal surfar essa merda rapazes?!” Silêncio. “É, aposto que nenhum de vocês é capaz. Ou simplesmente não estão me ouvindo...” Eu estou apenas no segundo andar, mas já me sinto alto demais. Sob o parapeito da janela, o luminoso do antigo locatário da sala. Salão de beleza Chandelle. Porra! Realmente, é melhor não chamar muita atenção nessa janela. Fechei as persianas novamente e tornei a circular na sala indo até o banheiro refrescar o rosto com um pouco d’água. Nada que me deixe mais calmo. Fui até a grade da porta e pude perceber o corredor vazio, resolvi ir conversar com a minha vizinha de escritório. Ela estava completamente desocupada e sozinha em sua sala, provavelmente jogando paciência ou algo do tipo, mas fingindo cumprir uma infinidade de tarefas complexas e insuperáveis. Fiz uns rodeios, falei sobre o calor e as desilusões do homem moderno perante a máquina capitalista, engatei um sambinha que terminava em ‘pára pará, pará pará pára’ e, depois de alguns truques com cartas e um pouco de malabarismo de semáforo, convidei-a para tomar uns chopes lá na Taberna. Havia já algum tempo que eu a estava convidando e ela nunca aceitava, sempre encontrava uma desculpa boba para ir pra casa na última hora. Se por um acaso hoje ela não aceitasse, não seria nem um pouco diferente. O fato é que nessa sexta-feira, além de o calor estar insuportável, ela estava comemorando o seu último dia de trabalho no escritório de recursos humanos que ficava na sala ao lado. Contou-me alguns fatos desonrosos a respeito da sua patroa. Uma mulher no alto de seus quarenta anos, formada em psicologia e que, apesar dos poucos atributos físicos que oferecia e de uma certa ausência de simpatia, considerava-se ainda um “pedaço de mau caminho”. Bem, talvez o pedaço de chão batido e esburacado, com uma dezena de pedágios e sem acostamento. Sem falar nas constantes barreiras e blitz. Freqüentemente analisando o movimento ao redor e exigindo o pagamento de favores masculinos. Realmente um pedaço muito ruim de mau caminho. Merece um caminhão de Kaiser. Um comboio talvez...
Contou também que havia brigado com um estagiário, igualmente quarentão, que se achava dono do negócio por talvez não conseguir aceitar a condição ridícula em que se encontrava. Em suma, ela não estava mais inclinada a sujeitar-se a certas coisas pela mixaria que ganhava ali.
- Certo, certo... nada disso me interessa, então, vamos tomar aquele chope hoje? É por minha conta, eu não vou pagar mesmo...

Ela aceitou. E então eu demonstrei todo o meu apoio a respeito da história triste que ela havia me contado antes, e concluí que sair daquele escritório era a melhor coisa que ela podia fazer. Afinal, se alguma coisa tivesse que acontecer aconteceria hoje, depois dos chopes. Senão, o melhor era torcer pra que a próxima secretária fosse mais acessível (até foi, mas essa é outra história).
Já tínhamos feito festa juntos, acidentalmente, uma vez, em um antro de empregadas e gente suada e pegajosa chamado ROSEplace. Um lugar vergonhoso onde desfilam camisetas regata e bonés de propaganda. Com pessoas que não conseguem administrar sua própria saliva dentro da boca e se perfumam com desodorante, pelo corpo todo. Onde a Kaiser long neck custa cinco reais e ainda assim esgota. Eu fui para lá por influência dos terroristas, a “tropa de elite” do outro lado da lei. Ela estava com a Fló, uma ex-rainha do Colégio Dom Bosco – onde eu estudei durante uma boa parte da minha vida – mas que nem era tudo isso, e uma outra amiga que eu não lembro se me disse o nome e nem importa, porque eu nunca mais vi e nem faço questão. Se a ex-rainha já não era grande coisa, essa então, nem pra miss simpatia servia. Eu realmente tinha interesses extra-classe com a garotinha, mesmo fugindo bastante às minhas preferências. Talvez seja um indício de pedofilia da minha parte, perversão, não sei, talvez fosse apenas curiosidade.
O nome dela era Letícia (acho que ainda é) e eu a chamava de Letícia Bebê, pois ela tinha dezoito aninhos recém-feitos e era uma gracinha loirinha, toda meiga, com as bochechinhas sempre coradas e um ar de inocência que dava vontade de tirar. Algo nos padrões Britney Spears pré-babyboom, antes de ela começar a desfilar por aí com a xereca de fora, os peitos caídos e a cabeça raspada. Antes, bem antes. Não que a Britney seja padrão, nem mesmo interessante ela é, mas o ar de ingenuidade, o aspecto de pureza... Limpeza talvez seja a palavra, a ausência de doenças e perebas, isso faz com que qualquer homem queira enfiar o pinto imediatamente. Sem se ater a perdas de tempo “preservativas”. O sentimento de poder afundar a boca ali embaixo e sentir o perfume de seus pequenos lábios na ponta da língua, depois dormir com a cabeça em suas coxas e acordar para um novo dia de felicidades infinitas! Ok, não é bem assim, é claro que não. As últimas divagações estão ainda muito longe de serem verdade, mas mesmo assim, é bom de vez em quando pensar que isso poderia ser possível e continuar experimentando as várias variedades femininas que a vida oferece. Dos quatorze aos quarenta, com algumas exceções às vezes, para cima ou para baixo. Acredito até que eu não estaria escrevendo tudo isso se a coisa tivesse dado certo, mas agora o que me resta é aproveitar que não deu. A hora dela talvez ainda esteja por vir, não é uma carta devolvida ao baralho, apenas juntou-se a outras cartas velhas num montinho do meio da mesa. Algumas mais velhas do que as outras, algumas já marcadas, inclusive. Então, a menina andava meio enrolada com um ex-namorado que trabalhava no Hotel Blue Tree e devia ser um completo idiota adolescente, pois a deixava soltinha assim, mesmo ela sendo apaixonada. Que seja. Talvez o cara tivesse ofertas melhores no seu emprego de carregador de malas, gorjetas no quarto, e sei lá o que. Mesmo assim, melhor um peitinho na mão do que dois no sutiã... Tudo combinado, cada um encerrou o seu respectivo expediente, e neste dia nós fomos até a Taberna para um happy hour descontraído. Se é que isso é possível...
Chegando lá, após cumprimentar o pessoal, sentamos no balcão (nos bancos em frente ao balcão, mais precisamente) e eu pedi dois chopes, para abrir os trabalhos. O primeiro chope de uma noite quente tem uma expectativa de vida curtíssima, então, em menos de um minuto, eu pedi o meu segundo. Depois, após uns dez minutos, tive que convencê-la a me acompanhar enquanto eu tomava o terceiro. No mesmo balcão estavam os clientes habituais, Fernando e ‘Seu Eny’. Os costumeiros freqüentadores da Taberna no fim de tarde. Em meio aos chopes, juntamente com o Jorge e a Rosane engatamos o tradicional papo de culinária. Cada um extrapolando em suas receitas mais mirabolantes com molhos e temperos variados e exóticos. Especiarias do extremo-oriente e o caralho a quatro. Nem tudo que seja possível colocar em prática, ou simplesmente, em uma panela, mas que dá uma coceira na garganta enquanto se imagina. Coisa de gourmet. Assunto para gente entendida ou, pelo menos, que se fizesse entender. O que não era o caso dela. Infelizmente a pequena só dava bola fora e eu já não sabia onde me enfiar. Agüentei por alguns minutos intermináveis os olhares de repressão do resto do pessoal. Talvez somente eu conseguisse perceber esses olhares, mas eu tenho certeza de que eles existiram. Afinal, eu estava apenas no terceiro chope. Acho que esse foi o meu castigo por ter tentado colocar o quadrado no buraco redondo (qualquer semelhança com alguma marca de cerveja é mera coincidência). Todo mundo lá tem gosto apurado e procura esmerar-se nas coisas que faz. Só que ela resolveu participar da conversa dizendo que não gosta de muito tempero na comida, não é chegada em pratos muito sofisticados e, que o bom mesmo é McDonald’s com ketchup. Poderia ter evitado o comentário, não era necessário. Ninguém tinha pedido a sua opinião. De qualquer maneira, se a minha intenção fosse simplesmente enrabá-la, por prazer ou castigo, até teria concordado, defendido um pouco a sua tese. Tentaria explicar que em madrugadas frias, após uma certa quantidade de cerveja y otras cositas, não há nada mais acalentador que um cheeseburguer do Mac, mas não, não dessa vez. Eu definitivamente não estava só a fim de enrabá-la. Bom, talvez depois disso sim, mas não seria por amor. De jeito nenhum. Tadinha, perdeu a sua grande oportunidade de ficar quieta. Pedi mais dois chopes, saideira – no copo fininho – tomamos e me despedi do pessoal. Ela tinha que chegar cedo em casa e eu tinha que chegar em Esteio ainda antes das oito, o que representava vinte quilômetros de BR116 no horário de pique das universidades. Precisava ir até uma transportadora para coletar a mercadoria que não havia sido despachada para mim na tarde deste mesmo dia. Mercadoria que eu precisava entregar num cliente no dia seguinte. Tomei os chopes, me despedi do pessoal e tomamos nosso rumo, e logo que arranquei com o carro ela me disse ter gostado bastante do pessoal enquanto ajeitava o cinto de segurança – talvez tenha dito mais para me agradar do que sinceramente falando. Temo que a recíproca não fosse verdadeira, ela era realmente um bebê, seu lugar não era num bar como a Taberna, onde as pessoas te mastigam com o olhar e te engolem com uma dose de steinhaeger Schlitche. Em resumo, valeu a tentativa, mas nenhum de nós merecia isso. Deixei-a na frente de casa e parti com pressa para Esteio. Pelo menos não teria que conversar a respeito disso na segunda feira, ela já não estaria mais trabalhando na sala ao lado.
Com quatro chopes na cabeça e a vontade de resolver esse outro problema, atravessei a BR116 exigindo o máximo do Golzinho, e chegando lá, carreguei a mercadoria, bati um papo com um dos donos da transportadora – que deve ter notado que eu estava meio pra lá e com bafo de ceva, mas mesmo assim me deu papo – e voltei batido pra Porto Alegre. Ainda na estrada, meu telefone tocou e era o Fábio ativando pras festas da noite. O aniversário da Sara no boteco do Adriano e o nosso amigo Bandeira que ia pôr som no Republic Pub. Confirmei presença em todos os eventos, até porque eu já ia aproveitar pra ir no Gum entregar duas caixas de azeite que havia pego na transportadora, e, é claro, já ficaria por lá para tomar umas cervejas. Cheguei em casa e descarreguei o que era desnecessário, e deixei no carro só as duas caixas de azeite e os quatro baldes de azeitona preta que deveria entregar na Bazkaria no dia seguinte. Peguei a mochila com umas roupas – o kit de sobrevivência – e me mandei pra fazer as entregas da noite. Nem perdi tempo trocando de roupa, afinal, estava elegantemente vestido como exige a profissão. HaHAHAHAHh! Cheguei no Gum lotado, me espremi no meio daquele mar de gente, para chegar até a cozinha e deixar a encomenda. Marquei com a Fran de passar mais tarde pra cobrar. Fui para o Ossip, cerca de quinhentos metros dali. Cheguei lá e não encontrei ninguém, pelo menos não quem eu esperava. Os Terroristas. Capitaneados por Louis Terror e seu fiel escudeiro, o pirata tomador de Malibu, Silent Boy. Gabriel Mallet para os íntimos. Entrei no Ossip, dei um alô pra Liana que estava trabalhando nessa noite e fui a pé até o Bar do Adriano que é na mesma quadra só que na calçada oposta. O Adriano era um boteco tradicional, onde se reunia o pessoal da literatura e do teatro de Porto Alegre, além dos eventuais ratos de bar. Só que agora virou modinha da cidade baixa tomar cerveja no Adriano, que é mais barato do que pagar a decoração de boteco temático e “Melhor de Porto Alegre segundo a Revista Veja” do Ossip, além de conviver com o monte de pseudo alguma coisa que infestam a sua calçada de esquina. Infelizmente em pouco tempo esses ‘pseudos’ descobriram o boteco Adriano e como é de costume, usufruíram dele até que se tornasse inviável, e o Bar do Adriano infelizmente fechou. Uma baixa lamentável na escalação de bares underground de Porto Alegre. Mas isso também é outra história. Cheguei ali e encontrei a Criss, a Sara e a sua amiga feia e asquerosa, Diana – sempre com cara de quem comeu e não gostou ou nem sequer foi comida. E mais algumas figuras de uma bandinha conhecida com nome de super-herói japonês. Infelizmente, apenas a ‘banda podre’ da banda. Cumprimentei a aniversariante e devido à baixa alegria dos presentes no local, já tratei de pegar o telefone e ligar para ver onde andavam os Terroristas. Nessa hora chegou o Bandeira, que eu não via há algum tempo e enquanto o cumprimentava, o Fábio atendeu ao telefone e me disse que eles já estavam no Ossip.
- To indo praí.

Fui. Nem me despedi. Cheguei em frente ao Ossip e comentei com eles que o Bandeira estava lá no Adriano, com as gurias, e o Fábio então saiu correndo. Fiquei ali conversando com o Louis, o Gabriel e o Papi. Tomamos umas duas ou três Original, e então chegou a derradeira hora de ir pro Republic Pub. Levantamos âncora e partimos para o Adriano, catamos o Fábio e o Bandeira ainda na frente e sem muita conversa fomos em direção ao lugar. No caminho, antes de entrar, demos uma passada no prédio da Xanda – a namorada do Bandeira, que estava viajando – a uns trinta metros do Republic, e ali, nos degraus da escada mesmo, nós esticamos umas três linhas pra cada um e mandamos ver. Sem se importar com a poeira dos degraus, nem mesmo com os moradores que poderiam surgir por ali a qualquer momento. No corredor do prédio, com a luz acesa. Ninguém estava preocupado em ser silencioso, nem era preciso. O guardador de carros ainda ficou espiando a curiosa função pelos vidros da porta, na expectativa de alguma sobra. Perdeu tempo e gorjetas.