04/06/2009

KIMBAL - o Retorno II

Volta



Eu continuo lá, ainda sob supervisão do Fábio e do Papi e nada de beijo na boca. Felizmente, eu acho que a guria não estava entendendo. Não que fizesse alguma diferença. Não naquela situação, nem naquele lugar. Eu acho...
Quando eles resolveram ir embora de verdade, após umas três ameaças, e eu avisei que ia ficar, me despedi, meio sem jeito, pois estava jogado num canto do sofá com ela por cima de mim, e, tão logo os dois viraram as costas eu analisei bem o rostinho dela e dei o primeiro beijo. O segundo não demorou muito, mas ela beijava muito mal. Que beijinho doce que nada. Aliás, menina de programa não tem que saber beijar, ela tem que saber chupar e tá acabado. É uma questão de respeito, a boca é uma coisa sagrada. Use com moderação. Mas eu imaginava que se uma delas realmente se apaixonasse, ela saberia como conduzir as coisas, mas essa tinha medo eu acho, ela mal abria a boca e os dentes então era quase impossível. Claro que, aos poucos, ela foi se soltando e mudou, hoje ela já não beija tão mal. Comigo pelo menos não. E eu que defendia a teoria de que beijo bom é qualquer um, desde que se goste muito da pessoa e o momento seja prazeroso, fiquei meio que num dilema. Era eu ou ela? Alguém não estaria se divertindo ou a minha teoria era bosta nenhuma. Enquanto isso na sala de justiça, beijos e mais beijos na safada. Que vergonha.
Depois do momento ternura, a gente ainda dançou abraçadinho no meio da pista, nem sei que música poderia ser e talvez seja melhor nem lembrar, pra evitar flashbacks. A essa altura (do horário, não a minha), o lugar já estava quase vazio e as pessoas que estavam lá dentro já começavam a perder o pouco pudor que ainda lhes restava. Era um entrevero generalizado, ou, falando a grosso modo, uma suruba. Nós estávamos escorados em uma parede próxima ao bar e ela começou a esfregar a bunda no meu pau. Em ritmo de aventura. Estava tudo muito bom, bom. Tudo muito bem, bem. E de repente começou aquela vontade desgraçada de mijar e ela não parava de se esfregar em mim. Dei uma escapada e fui até o banheiro. Parei na frente daquele vaso imundo, onde uma dúzia de pessoas já devia ter vomitado, esporreado, cagado, e até cheirado cocaína. Alguns devem ter inclusive mijado, assim como eu tentava agora. Só que o mijo não vinha. Ainda fiquei um tempo, abri a torneira, fiz força, mas nada. E, mesmo sabendo que o mijo ainda estava dentro de mim, voltei pro salão. Encontrei-a no mesmo lugar e, quando me aproximei, voltamos ao estágio anterior, sem muita conversa. Ela continuava me excitando e eu agora só podia pensar na droga do mijo que não tinha feito no banheiro e eu temia fazer nas calças. Eu não poderia ser tão perdedor assim, a ponto de me mijar perna abaixo. Ou poderia? Não! Só que a todo minuto eu tinha aquela sensação de que o mijo estava escorrendo aos pouquinhos, sentia aquele calor úmido na ponta do tico, e isso estava me deixando nervoso. Tinha que voltar ao banheiro e resolver esse problema, mas não sabia como. Fui até o bar, peguei uma cerveja, tomei uns goles e dei na mão dela. Enquanto ela bebia fui novamente ao banheiro. Me distraí com um pessoal que brigava próximo à pia e acabei relaxando o suficiente para deixar a urina fluir. Entre facadas e ajustes no topete com o fio do canivete o pessoal de jaqueta de couro acabou com a raça dos orientais. Os nossos japoneses talvez não sejam assim tão “mais inteligentes que os outros”. Nem sei do que se tratava a peleja, fechei o zíper da calça e não perdi tempo lavando as mãos, voltei imediatamente para a pista, mas ainda tinha aquela sensação de que estava ficando alguma coisa, parecia que eu não tinha urinado o suficiente. O que ela estava pensando eu nem imagino. Talvez tenha pensado que eu estava me masturbando ou que cheirei umas duas gramas de pó nesse tempo todo em que estava ausente, já que era isso que ela e as amigas faziam quando iam no banheiro.
Além, muito além do além, nós nos escoramos numa mesa perto da porta de entrada – à direita de quem sai – e ficamos ali “namorando”, até que a amiga feiosa dela começou a encher o saco. Interrompendo a todo minuto com desculpas infantis e desnecessárias. Porra, ela era muito inconveniente. De instante em instante ela vinha e me pedia para conversar com a amiga dela um minuto. Claro que eu não era merda nenhuma pra poder dizer que não, ela que fizesse o que bem entendia, então foda-se, era a deixa pra eu ir no banheiro tentar mijar novamente. Eu sabia que elas iam ao banheiro dar uns tecos e sabe-se lá o que mais, pois as amigas dela já estavam muito loucas. Não sei onde conseguiam tanto pó, talvez com o Hipopótamo, sei lá. O importante era não pensar na maneira como pagavam, pois deveria ser em serviço, já que dinheiro elas não tinham muito.
A feiosa – vamos chamá-la de Chiquita – estava com um cara de camisa branca e coletinho de couro, estilo Kowalski 71’, e mais uma puta véia que devia estar foragida de algum museu ou sítio arqueológico. Ela ficava toda boba e fazia caras e bocas quando eu deixava a amiga dela ir “conversar”. Mas como essa era o tipo de puta ordinária mesmo, eu sabia que no fundo só estava tirando com a minha cara. Ainda mais naquela situação, naquele lugar, e naquele horário.
Ela voltava “me devolvendo” a Tutti e, cheia de sorrisos, dava alguma letrinha cheia de boas intenções.
- Tu é muito legal, come bastante a minha amiga, faz ela gozar bastante!

E eu que já nem sabia se o meu pau ia subir na hora H, não tinha resposta pra ela, só olhava pra outra, balançava a cabeça, e ria. O movimento foi dissipando-se com o passar das horas e, depois de quase todo mundo ter ido embora, restava apenas uns quatro caras quase estuprando aquela gorda que ficava mostrando os peitos, e o pessoal do gelo entrando pra fazer entrega. Fui olhar as horas e já era quase meio-dia. Abri a porta para respirar um pouco e me certificar de que era possível sair daquele lugar, mas o sol lá fora ardia nos meus olhos. Tomei uma última cerveja e resolvi que era hora de se mandar. Nem sempre é fácil ter certeza da hora certa de se fazer alguma coisa, mas, nesse caso, não havia dúvida. Alguns minutos a mais poderiam ser fatais.
Avisei que estava no meu horário e que se ela quisesse sair comigo que fosse se aprontando. Ela foi falar com as amigas, uma delas estava jogada num sofá, logo ao lado da mesa em que nós estávamos antes, com os peitos de fora, e tinham roubado a bolsa dela. Quando ela recobrou os sentidos foi aquele desespero, gritaria e nada mais que resolvesse a situação. A feiosa ainda estava com o Kowalski. O cara queria levar ela e a véia pra um “programa”. Os três ficavam se esfregando e passando mãos aqui e ali o tempo todo e, o cara tomava um whisky de quinta categoria certamente. Black Wood talvez. Como a Chiquita já estava mal, e sem nenhum resquício de discernimento, a Tutti falou pra ela que o cara teria que deixar o dinheiro com a gente antecipado, senão ela não ia. Situação difícil essa. Money talks. O Kowalski estava tão bêbado que nem o Darcy Pacheco ia conseguir levantar o pau dele, imagina essas duas barangas. Com certeza haveria algum tipo de desentendimento e ele ia acabar botando as duas pra fora sem pagar nada, isso se não espancasse ou matasse alguma delas antes do fim do dia. O que não seria de todo errado.
Ficou ainda uma meia hora naquele vai não vai e, finalmente, quando nos demos por conta, o cara tinha sumido com a véia, e aquele capeta em forma de guria acabou sobrando pro meu carro. Kowalski filho da puta, ainda vamos cruzar pelas freeways da vida.
Quando fomos embora, a mina das tetas molengas já estava pelada e os mesmos quatro caras de antes estavam atolando ela, de tudo quanto era lado. O DJ Albino já tinha abandonado as pickups e estava tomando o seu drink em uma mesa isolada na companhia de dois anões, um, inclusive, muito parecido com aquele que estava aparentemente morto no banheiro do Alfredo. Você Conhece O Bar Alfredo? O Gordinho da Bidê e o Hipopótamo não foram vistos mais por ali. O pessoal do gelo já tinha recebido o pagamento e ido embora, assim como os garçons e a maioria das meninas perdidas e imperdíveis que circulam por lá. Restava saber se o Paulão ainda estava na porta e cuidando da segurança. Mas da segurança de quem? O lugar tinha virado um inferno e eu estava de saída. Se a saída fosse possível, o que ainda era uma incógnita. De qualquer maneira, já tinha abraçado o Diabo, apenas pra não perder a viagem.
Chequei os bolsos, dinheiro, chave do carro, documentos e tudo o mais que se faria necessário após sair dali. Dei voz de comando e tomamos o rumo da rua. O grande problema agora era que as duas não podiam entrar no putedo onde trabalhavam antes da uma hora da tarde, e eu já não agüentava mais a voz da outra, que estava sentada no banco de trás, e não parava de reclamar que tinham roubado o casaco dela.
- Ninguém merece, ninguém merece! – A Chiquita ficava repetindo sem parar.

Não sei quanto aos outros a que ela se referia, mas acho que eu, no fundo no fundo, merecia, e talvez até um pouco mais, quem sabe. Talvez, talvez...

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