04/06/2009

O GABRIEL

O Gabriel já tinha ido embora a essa altura. Na verdade, nem vi direito que horas ele tirou o time de campo, e, acredito até, que na verdade ele quase nem ficou lá dentro. Se não fossem os fatos que vou descrever na seqüência, diria até que o Gabriel nem esteve lá nesse dia. Mas não é verdade. No meio da noite, uma puta se engraçou nele. Aproximou-se para a abordagem e essas coisas que elas fazem quando querem tirar um dinheiro da gente. Estralava os dedos das mãos, jogava os peitos para cima alternadamente e fazia tubinho com a língua soprando ar na cara do Gabriel, dentre outras coisas mais esdrúxulas, e nós fazíamos sinal pro cara e ele não entendia. Parecia um bando de mímicos malucos sincronizados. Palmas de ouro para todos. E ovações entusiasmadas da platéia em geral.
O fato é que, mais adiante, ele ainda estava com a vagabunda, acho que hipnotizado pela seqüência circense individual que ela ia apresentando, mas ainda sem trocar nenhuma palavra. Talvez tenha sido logo após, que ele primeiramente pronunciou-se. Ou talvez tenha sido ela, e no momento que o Gabriel teve direito à sua réplica, e possivelmente tenha tido dificuldades para entender o que ela disse, devido ao barulho e a impossibilidade de ler seus lábios negros naquela escuridão. Imagino que o Gabriel enrolou-se para responder e ela além de não entender chongas do que estava acontecendo, não gostou de saber que ele usava aparelho de audição e saiu fora. Insensível.
Era uma negrinha gostosa. Fogosa. Dessas Valérias Valenças que se vê aos montes no carnaval e insistem em desaparecer no restante do ano, quando o frio e os ventos adversos parecem obrigar-nos todos a sobrepor roupas e mais roupas que disfarcem formas mais generosas. Mas a negrinha tinha uma cara de bandida que dava até medo. Medo de ser feliz inclusive. Então, após as divergências serem amenizadas, ela trouxe uma amiga sobressalente, mas que era bisonha, e quando a gente viu o Gabriel já estava aplicando um Roto-Rutter nela. Sucção total. De ponta a ponta. Que vergonha do Gabriel. Shame on you silent boy! Todo mundo tentou evitar, mas o cara nem quis saber. Mandou ver na língua e resolveu levar pro programa. Tudo certo até então, só que aí reapareceu a nêga bandida e disse que ia junto. O Gabriel, que não tinha nada a perder, talvez tenha curtido a idéia de fazer um ménage a trois. Ou, quem sabe, apenas imaginado.
Em questão de segundos, sem que pudéssemos reagir racionalmente ao impacto visual que a cena nos provocou, os três saíram porta afora e nenhum de nós pôde, ou conseguiria, fazer nada. Mesmo que quisesse, pagasse, ou sei lá o que.


Corta

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