04/06/2009

PARQUE MOINHOS DE VENTO (popularmente chamado de Parcão)

Sábado, 24 de abril de 2004 – Um pouco além do meio dia



A aberração só repetia isso e eu tentava parecer a pessoa mais serena da face da terra, falando pausadamente e muito pouco. Ninguém merece! Ninguém merece! Sounds of silence. Quase confundindo preposições e predicados ao tentar formatar frases minúsculas em uma língua que eu quase esquecia também. Precisava arranjar alguma coisa pra fazer até a uma hora da tarde, e que me permitisse contato com outras pessoas. E diálogo inclusive. Diálogo saudável. Inteligente. Na ausência imediata de alternativas e sob sugestões e reclamações de fome, fomos até uma padaria na rua Pelotas – a Planeta Pão – que fica perto do putedo onde elas trabalhavam, o Swing. A Chiquita pediu um café com leite de litro e meio, e um sanduichão de presunto e queijo com três andares e pé direito de cinco metros. Não era um simples farroupilha, era o acampamento inteiro. Num vinte de setembro. A Tutti pediu apenas um copo de leite e uns pãezinhos de queijo, e comia muito pausadamente. A puta tinha classe, ou fingia ter. Mas fingia muito bem, tanto que ela pagou o lanche. Guardei meus comentários para mim mesmo. Com medo de morder a língua e tal e coisa. Já estava contando com este custo a mais. Saímos da padaria em meio a um duelo de baguetes de anteontem. Firmes como pedra. Aço. Floretes. En guard!
Como eu tinha que fazer uma entrega de quatro baldes de azeitonas em um cliente – a Bazkaria, aquela pizzaria na frente do parcão – nosso destino já estava escolhido. Um passeio no parque. Vamos passear no parque? Deixa o menino brincar... Fim de semana no parque. Nada de racional.
Estacionei e peguei os quatro baldes no porta-malas. Justamente aqueles que eu tinha ido buscar bêbado, em Esteio, na noite anterior. Disse pra elas irem até o parque fazer um reconhecimento do terreno, que eu só ia entregar as azeitonas e já estava indo atrás delas. Atrás no sentido figurado, não literalmente. Não ainda. Após cumprir minhas obrigações de proletário ou business man em ascensão, joguei de lado a vergonha e tomei rumo. Adentrei os limites do parque e da civilização burguesa do Moinhos de Vento. Com a exclusividade de um sábado à tarde, comecei a mostrar o (não menos famoso) Parcão para as duas meninas inocentes do interior. On Tour in Porto Alegre. Eu de sapato, camisa e calça social, empresário esportivo, e a Chiquita com as tetinhas quase saindo pra fora da blusa – sem falar que ela não ficava quieta nem um minuto. Fazendo comentários fúteis e inúteis at full time. E sempre pondo em risco a minha discrição e reserva. Coisa de quem não tem nada a perder.
Quando nós estávamos atravessando a passarela da Goethe, e ela vislumbrava abismada com o fluxo de veículos na avenida, eu olhei-a e comentei:
- Sabe o que é pior do que cair aqui de cima? É que tu não morre. Mas antes de conseguir levantar do chão, algum carro passa por cima de ti, e acaba com as expectativas.

E ri da cara da cretina que não entendeu. Comprei pipoca para dar pros patos e a Chiquita, empolgada, quase caiu no laguinho uma dúzia de vezes, a Tutti não, essa ficava o tempo todo se enrolando no meu pescoço e eu já não agüentava mais tanta melação no ouvido. O sol do meio-dia continuava me agredindo e o Parcão lotado pela sociedade porto alegrense, que tapava os olhos dos seus poodles para eles não chocarem-se com cenas tão dantescas e libertárias. A puta de elite recrimina a puta pobre. Essas velhas que hoje desfilam seus botox e apliques pelas areias do parque são as mesmas que se prostituíam nos anos sessenta em troca do status e glamour que a sociedade oferecia. Acabado o passeio levei as duas para o trabalho. A Chiquita continuava reclamando da vida e a outra ficava falando que estava apaixonada por mim, o que fazia as reclamações aumentarem ainda mais. Ela me pedia pra chamar um amigo meu pra ficar com ela, e eu descendo a Dr. Timóteo até lembrei do Diogo e dizia pra ela:
- Vou te apresentar o Diogo, um alemão bonitão de olho claro. Muito amigo meu.

E a Chiquita se empolgava toda. Puta. Chegando lá, estacionei na frente do putedo, com o carro de frente para uma parede toda pixada, que torna a rua sem saída, a monstra entrou rápido e, depois de uma conversa, eu aproveitei e dei um bago ali mesmo. Baguinho, pois o tempo era curto e alguém poderia vir encher o meu saco, quando a real intenção era esvaziá-lo. Quem sabe até um segurança do lugar, sei lá. Só sei que poderia ter sido um simples boquete. Blowjob. Mas veja só, ela não gosta de chupar. De rir ou de chorar? Já viu atacante que não bate pênalti? Na hora que o time precisa ele amarela. Faz um mês que eu traço ela e a gringa ainda tem medo de pegar no meu pau. Boquete então nem pensar. E ela já disse que não gosta de chupar nem deixa ser chupada. É 100% pau dentro. Ficamos ainda um tempinho de romance, eu não gozei pra variar e ela pegou um anel meu e eu não vi. Estava preocupado com o horário, pois eu tinha que levar o Vico no aniversário da Dianna e então ela disse que ia entrar e eu simplesmente deixei e fui embora, só no outro dia que eu fui me dar conta da falta do anel, o que me deixou meio irritado. Mas tudo bem. Olho por olho, dente por dente, anel por anel. Soon or later.

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