04/06/2009

KKKIMBAL ou, O bar onde as putas vão depois do expediente

Sábado, 24 de abril de 2004 – 04:30 da manhã



Um deformado com garras de lagarto e um imenso rabo que saía através do rasgo na traseira de suas calças e sibilava pela calçada varrendo desordenadamente os resquícios de cigarros, cacos e garrafas vazias abandonadas. Um réptil. De pele fria, e sentimentos idem. Estava pondo o banner com o preço na parede da frente. As escamas de seu rabo repugnantemente lubrificadas com uma gosma escura e viscosa, e uma centena de sujeiras e micróbios acumulados pelos anos de trânsito intenso entre os esgotos e o underground porto alegrense. Milhares de dúvidas e destinos e perguntas a fazer, mas, no calor da hora, apenas perguntei como é que estava o movimento dentro da casa, e nada mais.
- Tá vazio... Ele resmungou com seu sangue gelado a percorrer todas vértebras desconjuntadas do corpo e os olhos parecendo querer vasculhar cada canto obscuro das periferias do infinito.

Olhei para o resto do pessoal e para um caubói que despontava no horizonte e disse: “Tá vazio, nós vamos ficar assim mesmo?” E o caubói continuava a se aproximar, sem emitir nenhuma palavra ou gesto amigável, enquanto os meus amigos refletiam sobre a situação.
Só então, que aquele ser mezzo Quasímodo mezzo mozzarela – com um dos braços apresentando uma atrofia que eu não era capaz de entender, tendo em vista o meu nível alcoólico naquele momento – me disse que o local só abria às cinco e a gente não ia poder entrar naquela hora, mesmo que quisesse, pagasse, ou sei-lá-o-que.
- "Vão dar uma voltinha depois vocês passam aqui..." Completou ironizando e, com um golpe rápido da língua, abocanhou uma mosca varejeira azulada que voava distraída e desgovernada, após pousar em algumas cervejas, provavelmente.

No horizonte, um resquício de luar e uma fisionomia perdida na noite. Midnight Cowboy. Jon Voight. Nada do rato Hoffmann roendo a rosca na Rua da Praia. O caubói estava sozinho. Na verdade, também não era Voight, apenas um genérico qualquer. Era, simplesmente, O Caubói. Assim, abrasileirado mesmo. Ninguém pareceu perceber a sua presença. O céu escureceu apenas por alguns segundos – o tempo suficiente.


LIGHTS OFF


O Caubói aproxima-se, me pediu as horas e um cigarro.
- “É tarde demais para um cigarro”. Respondi, e matei o Caubói. Nem sei como, talvez apenas com minhas palavras.
Ele nunca soube a hora de parar de fumar...
Tem dias que me pego a pensar no que eu fiz pelo Caubói. “Irei para o céu, para o inferno, ou para o Mundo de Marlboro?”

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